Também deve ser colocada a questão sobre a ordem cultural legítima. O sistema do gosto expressa uma ordem cultural legitima que apesar de ter variações em vários sectores mantém-se sempre a mesma.
Nos dias de hoje será difícil encontrar uma cultura legitima porque aquilo que em certo momento do tempo tende a ser considerado obra de arte tem concorrência que a ameaça constantemente. As próprias hierarquias dos campos culturais flutuam com o valor cultural. Deste modo pensar que há uma única cultura legítima, não corresponde à realidade.
O consumo cultural, segundo Pierre Bourdieu resulta de um processo de distinção social. “O sentido da leitura resulta do sentido da distinção. As pessoas lêem e tendem a dizer que lêem mais do lêem para se distinguirem das outras que não o fazem”. Se a difusão do livro fosse tal, ele não seria um elemento de distinção nos processos de distinção social. Por isso as elites classificam como ‘lixo’ todos os bens culturais que estando tão banalizados não servem para distinção cultural.
Apesar disso, as práticas culturais não se esgotam nas culturas das elites, quaisquer bens ou produtos culturais ou simbólicos, ao serem consumidos têm múltiplos entendimentos. A recepção cultural é sempre criativa emprestando diferentes significados à recepção cultural e gerando um gosto que, todavia, não corresponde ao gosto dos grupos que produzem os bens culturais. Nesse sentido, a democratização da cultura faz com que ela deixe de ser elitista, esvaziando as elites do poder de descodificação e definição das fronteiras culturais.
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