Culturas populares e o modo como na actualidade a sociologia tende a considerá-las como relação de dominação social.
A tripla significação da cultura:
- Como estilo de vida
- Como prática declarativa
- Como corpos de obras valorizados (património)
Assim, a forma como os indivíduos se comportam, como se diferenciam e o que valorizam é sempre uma produção social. Estas três componentes não são coincidentes e estão alocadas a diversos grupos sociais e não a grupos socialmente dominados.
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A cultura enquanto estilo de vida remete para os modelos de representação e de práticas sociais que os actores sociais mobilizam e que implicam o recurso à estruturação social e do pensamento. Tem muito a ver com a ideia de consciência prática (produz o mundo e a produzi-lo, reproduz-se a ela própria).
A cultura como estilo de vida representa o simbolismo social e estende-se, não só aos bens (artefactos) da vida quotidiana, mas também às categorias mais abstractas do pensamento (como a harmonia, o gosto, etc.). Se a considerarmos como a ‘trave mestra’ somos obrigados a considerar que não há nenhum povo sem cultura.
Esta evidência (de Clifford Geertz) constitui um logro e deve ser combatida.
A cultura como estilo de vida deve ser articulada com outros estilos de vida e sujeitas a diversas ingerências ideológicas.
As culturas como estilo de vida (se os estilos de vida tal como os entendemos compreendem padrões de significados históricos transmitidos) resultam de jogos de formulação que realizam operações de hierarquização de estilos de vida.
Se partirmos da ideia de que estilos de vida são constelações exprimindo certos padrões de significados sociais, tendemos a perder de vista que sobre esses padrões são exercidas forças que interessam analisar do ponto de vista sociológico.
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A cultura como pratica declarativa, ou seja, prática de definições e valorização de certos grupos.
As culturas existem sob formas discursivas (escritas e orais) – estamos a falar de discurso e não de formas eruditas de cultura – isto é formas que estão ligadas à vida de todos os dias. Este aspecto de cultura como discursivo invoca sempre um grupo que se distingue dos outros (aquele que se declara) ao reivindicar um certo núcleo de praticas que são diferenciadoras dos outros (os artistas, dos não artistas; os jornalistas dos políticos; os portugueses dos imigrantes). Quando há discurso, podemos dizer que há um aspecto declarativo da cultura.
Não podemos ignorar que na prática definitória está presente uma propriedade valorização da própria cultura e da sua singularidade. Devemos por isso evitar aderir á prática declarativa que os actores sociais no oferecem, porque este método declarativo sobrevaloriza as praticas discursivas do grupo através dos seus membros e / ou porta-vozes que valorizam as definições que os grupos nos oferecem.
O aspecto declarativo da cultura tem uma evolução mais acelerada que as evoluções dos comportamentos e ideias (simbólica). Às vezes numa mesma geração. Por isso é que devemos prestar mais atenção à cultura declarativa porque é mais sensível às retóricas dominantes (Pierre Bourdieu disse que o Maio de 68 tinha sido uma falsa tentativa de revolução que tinha provocado tanto medo como uma revolução e, por isso, produziu-se uma contra revolução que manteve o que já existia).
Mesmo a condição hippie, sendo um modo de vida quotidiano, encontramos ais um modo de continuidade que de ruptura. Continuidade de comportamentos académicos e sociais de filhos de famílias burguesas. O conceito de ruptura social foi oferecido pelo grupo, mas não corresponde a uma verdadeira ruptura.
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A cultura património constrói-se em torno de um tratamento privilegiado a um conjunto de objectos e práticas valorizadas pelos actores sociais – tal como se fez do mesmo modo para o sagrado e profano – atribuindo-lhes uma certa ‘aura’ com significado simbólico para um determinado grupo social.
A ordem lógica, para a cultura património, tende a impor uma certa forma de experiência (estética ou artística) e por isso podemos dizer que as obras de arte e todos os símbolos artísticos culturais dependem igualmente de uma experiência que as actualiza e reitera a intensidade e a transcendência desse corpo, constituído assim na sua transcendência como oposto ao efémero, banal, quotidiano. Todavia, os corpos culturais estão lá para serem ‘consumidos’ e se não o forem a sua ‘aura’ desaparece.
A cultura património resulta de um cânone e tende assumir uma forma de reportório associada ao conhecimento da própria história, numa lógica sequencial. É por isso que os artistas contemporâneos não são tão consensuais. Porque ainda não integraram o cânone. Esse poder de construir simbolismos nodais que definem as obras culturais, que definem os cânones (…).
Trata-se de um estatuto de obra que as sociedades concedem a alguns, com considerações materiais ou simbólicas significativas. Estas culturas património não estão apenas ligadas à arte, mas também aos comportamentos sociais e a outras áreas (como desporto, fado, Amália, Eusébio, etc.).
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