- Cultura cultivada
- Cultura popular
- Cultura de massas
Apesar das clivagens entre cultura clássica ou cultivada e a cultura do povo ou popular, estas culturas unem-se para avaliar negativamente a cultura de massas. Ambas se caracterizam pela perenidade e autenticidade. Uma e outra são contraponto à cultura de massas que não será nem perene nem autentica.
Valerá a pena dividir a cultura destas três maneiras?
A reposta é não.
Vale a pena, porém, analisar as pequenas e grandes tradições nas sociedades capitalistas. A pequena e a grande tradição, ou a cultura popular e a erudita tinham trocas frequentes no início da sociedade capitalista.
Se a pequena tradição era aberta a todos, e transmitida nas praças, teatros, etc., a grande tradição era transmitida em lugares reservados e em latim. Todavia, as trocas eram frequentes e havia figuras que mediavam a pequenas e a grande cultura. Artesãos, músicos, baixo clero, amas e actores eram alguns dos elementos que mesclavam elementos eruditos e populares em lugares públicos. Mas estas trocas não eram pacíficas, como mostra a medicina, espaço ocupado por médicos e cirurgiões que concorriam com bruxas e charlatães.
Estas culturas não são homogéneas. Tal como o espaço social simbólico também não é homogéneo.
Interessa também pensar em centros e periferias de consumo cultural.
A simplificação que se objectiva na cultura popular é uma ficção bem fundamentada com raízes históricas profundas que não podem ser pensadas independentemente das diferentes espécies de capital observado.
Com a centralização do poder politico no soberano a violência física legítima e a violência simbólica, levou a uma progressiva “domesticação dos corpos e das almas”, um processo que implicou uma fortíssima repressão das culturas populares e implicou o acantonamento das culturas populares.
Ao mesmo tempo surge a sociedade cortesã que contribuiu para cavar o fosso entre a grande e a pequena tradição. Surgem clivagens nos modos de falar a língua nativa (o cortesão não usa vernáculo) e institucionaliza-se como tradição e hierarquia. A sociedade da corte instaurou estes dois universos.
O romantismo no sec. 18 não mina estas divisões entre cultura popular e cultura de corte. De certo modo a cultura popular, tal como é entendida hoje, resulta de uma produção dos românticos, ao ficcionar a pureza de um povo com uma cultura ancestral.
Esta formulação produzida pelo romantismo contribuiu para reforçar a oposição das duas culturas mas acentuando a homogeneidade dentro de cada uma delas.
Foi a industrialização e a entrada do capital económico na produção em série que levou ao alargamento da cultura erudita e às modificações na divisão da pequena e grande tradição. Essa alteração começa com a literatura de cordel, pelas estampas e cópias de quadros e pelos primeiros espectáculos comerciais.
O processo de massificação da cultura conduz ao ‘drama do artista’. Quando se pensou que o publico libertava o artista das ‘grilhetas’ do patrono, verificou-se rapidamente que aquele continuava condicionado aos desejos de uma massa popular. Na prática, substituiu-se um mecenas por outro, sem vantagem para o artista.
Os críticos e os artistas
Os críticos artísticos surgem no sec 18 e permanecem como delimitadores das fronteiras entre um universo e outro. Hoje estão perfeitamente institucionalizados.
No sec 19, a produção que é orientada para um público alargado é a chamada arte burguesa, enquanto que aquela que é destinada a um público restrito toma a forma de ‘arte pela arte’. Esta oposição construída deste modo é um produto do sec 19 que foi explorado como filão da história da arte no sec 20.
A ‘arte pela arte’ leva ao culto da raridade da obra e do estatuto do criador singular. Mas para esta legitimação foi essencial o papel do crítico de arte, constituído como guardião e sacerdote do culto que se condensa no papel de poder anunciar ou denunciar o artista.
Desse ponto de vista são um produto de lógica mercantil (o artista e o critico) ao preservar uma arte ou uma obra da contaminação económica.
O dom do artista é a condição para exercer a sua criatividade. Assim, dom e criatividade entroncam nos ‘campos artísticos’. A criatividade como função do dom encontra-se na prática artística que os próprios artistas nos tendem a oferecer.
Para certos artistas a sociedade tem uma dívida aos génios e a sociedade deve assegurar o seu sustento. Desde o sec 19 que há reivindicação para que o estado assegure uma pensão ao artista. Por outro lado, os artistas reivindicam para si a liberdade em relação aos outros. Um paradoxo. Se a criação é a actividade de produção de originais, ela também deve ser incentivada pelo estado.
Temos por um lado a objectivação da arte: o dom do artista e por outro a sua institucionalização: o nome do artista.
Há uma prevalência do modelo ideológico no espaço público.
A retórica do artista alarga-se aos media: “competência, criatividade, talento” usa-se para o desporto, gestão, etc.
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