22.2.07

Amostragem e Inquérito

Modelo:
Aspectos metodológicos


Universo (ou População)
O conjunto de unidades de observação que pretendemos estudar (ou, unidades estatísticas). Podem ser indivíduos, famílias, agregados familiares, escolas, freguesias, empresas.
Para a quantificação do universo podem ser utilizados dados do Recenseamento Geral da População (CENSUS) realizado pelo INE de dez em dez anos (último em 2001).

Ex.: “O universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 15 e mais anos de idade, residentes em Portugal Continental, em localidades com mais de 10 mil habitantes, em lares com telefone fixo.”

Ex.: “O conjunto dos 7.902 licenciados recenseados na UNL nos últimos cinco anos relativamente aos quais se dispõe de informação completa.”

Universo homogéneo / heterogéneo influencia dimensão da amostra

Amostra
O conjunto de unidades de observação que vamos efectivamente observar.

Ex.: “A amostra é composta por 1006 entrevistas, com uma distribuição proporcional à população residente em localidades com mais de 10 mil habitantes, considerando as variáveis sexo, idade e região.”

Recolha de informação
Como foi recolhida a informação

Ex.: “A metodologia foi de natureza quantitativa, com recolha de informação através da técnica de entrevista telefónica, suportada por um questionário estruturado. A recolha decorreu entre os dias 4 e 26 de Outubro de 2005.”

Plano de amostragem

Tipos de Amostras:
- Amostra Aleatória
- Amostra Estratificada
- Amostra por Cachos
- Amostra por Áreas
- Amostra por Níveis
- Amostra por Fases
- Amostra por Quotas
- Amostra “Bola de Neve”
- Amostra Pensada

A primeira coisa que perguntamos é se existe base de sondagem.
Segunda pergunta é se temos dados para estratificar.

Se tivermos as duas coisas podemos combinar os dois métodos (aleatório e estratificado).
Se tivermos apenas base de sondagem podemos utilizar a amostra aleatória combinada com outra alternativa:
- Se a população for muito diversificada podemos fazer a amostra por fases (primeiro arranjamos dados para estratificar, depois aplicamos os dados na amostra final).
- Se a população for muito homogénea ficamos pela amostra aleatória simples, aumentado o número da amostra.
Se tivermos apenas dados para estratificar, optamos pela amostra por quotas (com a certeza que teremos listagens das regiões ou habitat que poderão ser tirados à sorte) ainda que não tenha listagem dos indivíduos.
Podemos também optar pela amostra por níveis para o primeiro nível e depois pela amostra por quotas para o segundo.

Não temos as duas coisas, nesse caso temos de descobrir ou criar os dados, utilizando a amostra por fases ou recorrendo a processos próximos do aleatório como o random route, ou a técnicas de tiragem sistemática como entrevistar indivíduos de tantos em tantos. Este processo de tiragem sistemática pode ser utilizado para a amostra por cachos.


A Filosofia do Aleatório

A primeira coisa que se tem de perceber é que, para haver tiragem à sorte tem que haver uma listagem exaustiva de todos os indivíduos que compõem o universo. Não pode haver tiragem à sorte sem uma listagem. Se essa listagem é a lista telefónica ou outra qualquer, pouco importa. A listagem de todos os indivíduos que compõem o universo chama-se base de sondagem de uma amostra.

No entanto, não chega que existam listagem para haver uma selecção aleatória; é também preciso que essas listagens estejam completas, correctas e, sobretudo, que correspondam exactamente ao universo que se pretende estudar (a lista telefónica, por exemplo, só contempla os indivíduos com telefone fixo).

Por outro lado é muito importante esclarecer que o recenseamento da população tem dados, informação, mas não tem nenhuma listagem dos indivíduos.

A tiragem à sorte rege-se pelo princípio do aleatório, isto é: a probabilidade de determinadas características aparecerem na amostra é tanto maior quanto for o peso dessas características no universo. No entanto a sorte pode transformar-se em azar, porque existem aquilo a que se chamam erros aleatórios, em que as tiragens à sorte saem muito fora da realidade do universo.

A Filosofia da Estratificação

O objectivo da estratificação é pressupor que, conhecendo as características do universo, num conjunto de variáveis, posso conseguir uma amostra com características idênticas ao universo representando-o bem, quer em relação às variáveis que controlei, quer em relação às outras que desconheço.

Normalmente a estratificação é feita com base em variáveis de caracterização (sexo, idade, nível de instrução, região, habitat, ocupação, etc.) porém, para se poder fazer estratificação é necessário ter dados, informação, sobre o universo.


A grande vantagem teórica da amostra aleatória em relação à amostra estratificada é que a amostra aleatória tem por base uma teoria cientifica que é a teoria das probabilidades (e por isso se pode calcular a margem de erro) enquanto que uma amostra estratificada, não aleatória não tem por base nenhuma teoria cientifica, mas apenas a qualidade dos resultados que vai dando na prática.

Em suma, há dois grandes modelos de amostragem: o modelo aleatório e o modelo de estratificação. O primeiro exige à partida, que haja uma listagem total dos indivíduos do universo. O segundo modelo vai obrigar-nos a fazer a pergunta: será que existem dados que permitam estratificar?

Há três níveis de amostra:
- O primeiro nível, a amostra aleatória em que eu confio totalmente na sorte

- O segundo nível, a amostra estratificada que está a meio. Eu não confio totalmente na sorte e por isso estabeleço quantidades para os estratos que acho importantes, mas deixo a sorte escolher os indivíduos.

- O terceiro nível, a amostra por quotas é o investigador que constrói a amostra.

Cada vez que se pensa fazer uma amostra devemos começar por colocar uma interrogação: Será que, para este universo tenho base de sondagem (listagem)?
Será que possuo dados sobre este universo que me permitam proceder à estratificação?

A primeira hipótese é possuirmos as duas coisas: aqui podemos escolher qual das amostras queremos fazer e até podemos aplicar as duas técnicas de amostragem ao mesmo tempo.

Numa segunda hipótese, se só tivermos a base de sondagem, então optamos pela filosofia aleatória.

Numa terceira hipótese, se só tivermos dados sobre a população, optamos pela filosofia da estratificação.

Finalmente, se não tivermos nada disto podemos fazer uma amostra do “tipo aleatório” ou amostra aleatória impura.

Amostra aleatória pura

Este tipo de amostra exige que se tenham cuidados extremamente elevados para que seja perfeitamente aleatório (por exemplo o sorteio do totoloto ou da lotaria).
Para fazer uma amostra aleatória pura em primeiro lugar é necessário numerar os indivíduos, depois, através de uma tabela de números aleatórios seleccionam-se os indivíduos que se pretende estudar.

Outra forma de amostragem aleatória pura, sem ser necessário numerar os indivíduos é calcular a taxa de sondagem
n (amostra) 400 1 (ou 20000:400=50)
N (universo) 20 000 50
Neste exemplo, vou escolher o primeiro indivíduo com uma tabela de números aleatórios e depois vou escolher de 50 em 50 até ter completado o número pretendido para a minha amostra. Esta técnica, conhecida como tiragem sistemática também pode ser considerada como um método de selecção aleatória pura.

Amostra Estratificada à priori (a)

A amostra estratificada parte do pressuposto que uma simples tiragem aleatória não basta. Embora tirando à sorte, esta amostra garante à partida que determinadas características do universo ficam representadas de forma correcta. Por exemplo num universo com uma distribuição por sexos de 55% de mulheres e 45% de homens, a amostra estratificada terá a mesma proporção.

Esta amostra só pode ser utilizada se houver uma base de sondagem (ou seja: um ficheiro com os nomes e moradas das pessoas) e se tiver dados da população (isto é: saber que percentagem corresponde a cada estrato).

Estratificação Cruzada

Tendo os dados sobre o universo pode-se cruzar variáveis como sexo e região ou idade. A este processo chama-se Estratificação Cruzada.

Para que esta amostra seja exequível são necessárias três condições:
Haver dados sobre o universo para poder estratificar;
Haver listagem ou um ficheiro para se poder tirar à sorte a amostra.
Haver base de sondagem com informação sobre as variáveis de estratificação consideradas no estudo.
Proporcionalidade e não proporcionalidade

Para definir a proporcionalidade da amostra é necessário compreender o que se pretende com o estudo e conhecer o universo. E, claro, sempre as primeiras interrogações: Há listagem? Há dados?

Dependendo dos objectivos do estudo pode ser necessário fazer uma amostra não proporcional para conseguir, assim, obter a opinião de alguns estratos que de outro modo ficariam excluídos.

Se alguém nos encomenda um estudo, é obrigatório perguntar como essa pessoa quer a analise, porque a amostra tem de ser diferente, consoante o tipo de analise que se pretende.

Por exemplo numa amostra distribuída pelos estratos idade, sexo e região pode obter-se:

a) Uma análise total
b) Uma análise por sexo
c) Uma análise por estrato etário
d) Uma análise por estrato regional
e) Uma analise separada de todos os estratos

Para cada um destes cenários pode ser necessário optar por uma amostra proporcional ou não, fazendo a correcção da proporcionalidade à posteriori.

Estratificar à posteriori

Estratificar à posteriori é dar à posteriori um determinado peso a um conjunto de indivíduos, tal como estratificar à priori é dar um determinado peso a um conjunto de indivíduos. Para isso vou utilizar um coeficiente de correcção das respostas: Divido o universo (se for o caso de uma grande cidade) em centenas, e as centenas que correspondem a cada estrato, divido pelo número a que corresponde na amostra. Com o resultado multiplico pelas respostas obtendo assim o valor proporcional.

Por exemplo: 4 milhões são 4000 centenas; se houver dois estratos, um de 500 centenas e outro de 3500 centenas e se para cada um dos estratos entrevistei 400 pessoas, divido 500/400=1.25 e 3500/400=8.75. Este é o coeficiente pelo qual vou multiplicar as respostas.

Estratificar à posteriori exige, tal como em todas as outras estratificações, a existência de dados e de listagem do universo.

É necessário ter em mente o objectivo do inquérito. Embora por vezes a amostra não proporcional permita conhecer melhor os grupos pouco numerosos, ela pode no entanto induzir em erro nos grupos muito grandes.
Separadamente por estrato, uma amostra não proporcional pode estar certa, mas para uma análise global a não proporcionalidade afecta os grandes grupos, devemos por isso procurar o equilíbrio numa amostra ainda que não proporcional, mas que se aproxima da realidade.

As amostras quanto maiores são, menos margem de erro nos dão.

Em suma, estratificar à posteriori implica

a) Conhecer as características do universo em relação às variáveis necessárias.
b) Que a amostra tenha distorções em relação às variáveis que considero importantes (se não tiver distorções não é necessário estratificar à posteriori.
c) Que os objectivos do estudo assim o exijam.

Amostra estratificada à priori (b)

Há dois tipos de amostra:

“Amostra Estratificada” (com base de sondagem)
Amostra por Quotas (sem base de sondagem)

A amostra estratificada, como já vimos, é uma amostra aleatória, ou probabilística. Significa que parte de uma base de sondagem de onde são sorteados os indivíduos. A diferença do método aleatório simples é que não confiamos na sorte e, como temos dados, podemos dividir os indivíduos por diversos estratos.

Mas a amostra estratificada representa ainda um ganho de precisão em relação à amostra aleatória simples, porque podemos ainda dividir a diversidade que existe em cada estrato. Porém, quanto mais estratos menos indivíduos ficarão em cada um deles e por isso menos precisa será a amostra, ou então, o numero de indivíduos a entrevistar tornar-se-á demasiado grande.

Por outro lado dividir os indivíduos por variáveis em que as pessoas podem mentir, altera o resultado da amostra.

Amostra por cachos

- Não tenho base de sondagem
- Não tenho dados
- Tenho listagem de cachos
- Tenho dados sobre os cachos

Acontece muito frequentemente que nos deparamos com o problema de não termos listagem das unidades de observação, ou seja, não temos base de sondagem e assim ficamos impedidos de utilizar a amostra aleatória. Mas, em vez de tirarmos à sorte as unidades estatísticas que nos interessam tiramos conjuntos de unidades estatísticas.

Não temos listagem de indivíduos, mas temos listagem de agrupamentos de indivíduos (escolas, empresas, centros comerciais, igrejas, associações, clubes, etc.).

Ter em atenção que todo o universo a estudar tem de estar contido nos agrupamentos.

Pertence à família das amostras probabilísticas, embora também possa ser utilizada num enquadramento não probabilístico.

Amostra de tipo probabilístico quer dizer que é tirada à sorte. São sorteados os cachos e são sorteados os indivíduos dentro dos cachos. Ou são entrevistados todos os indivíduos de cada cacho.

Porém, se o conjunto dos cachos for muito heterogéneo, isto é, se houver cachos de grande dimensão e outros muito pequenos devo estratificar por tamanho dos cachos e aleatoriamente escolher em cada um dos estratos, procurando evitar que a amostra fica sobredimensionada.

Normalmente estratificam-se os cachos em função da sua dimensão. Mas, ao estratificar em função da dimensão dos cachos, as dimensões dos estratos não são proporcionais ao número de cachos ou à sua dimensão, mas sim à dimensão da população.

Já quanto ao número de estratos depende dos tipos de cachos que se encontrar. Podem ser três estrados, cinco ou mais.

Para que a amostra por cachos, tradicional, aleatória, probabilística, seja utilizada é necessário que ela reúna estas condições:
Cachos numerosos; pouca gente dentro de cada cacho; cachos muito parecidos entre si e dentro de cada cacho o máximo de heterogeneidade que for possível.
Sistematizando, há três situações onde poderemos utilizar uma amostra por cachos:

1 – Quando os cachos são praticamente da mesma dimensão, em numero elevado e com um reduzido numero de individuo em cada um deles. Selecciona-se à sorte os cachos a observar e depois entrevistam-se todos os indivíduos.
Para calcular o número de cachos a seleccionar, divido a amostra pelo número médio de indivíduos que há em cada cacho (para uma amostra de 1000 e cada cacho com 10 indivíduos: 1000:10=100. selecciono 100 cachos).

2 – Quando os cachos têm praticamente a mesma dimensão e com um numero elevado de indivíduos em cada um deles. Selecciona-se à sorte os cachos e depois entrevistam-se alguns indivíduos em cada um deles.
Para calcular o número de cachos a seleccionar divido a amostra por um número razoável de indivíduos (por exemplo: um terço da media de indivíduos por cacho) e obtenho o número de cachos que devo seleccionar (1000:30=33 cachos e faço uma amostra com 990 indivíduos).

3 – Quando os cachos são muito diferentes quer em dimensão quer em características, temos de estratificar o que só é possível se houver dados do universo. Neste caso posso optar por uma amostra não probabilística, utilizando uma técnica diferente para a selecção dos indivíduos. Deste modo estaria a combinar 4 técnicas de amostragem: amostra por cachos, amostra aleatória, amostra estratificada e o tipo de amostra utilizado para seleccionar os indivíduos dentro de cada cacho.

Amostra por áreas

- Não tenho base de sondagem
- Não tenho dados
- Não tenho cachos

É semelhante à amostra por cachos, mas estes têm índole geográfica e não representam um agrupamento natural. Na realidade é o próprio investigador que vai criar cachos artificiais.
Este tipo de amostra é utilizado para produzir amostras em países onde não existe recenseamento nem listagens da população.

A lógica é a seguinte: o investigador, em resultado de uma observação quer cartográfica, quer por foto aérea, quer por observação directa, divide o terreno em áreas de diversas dimensões mas preferencialmente com um número aproximado de indivíduos. Deste modo pode proceder como no exemplo 2 dado na amostra por cachos (semelhantes mas com um numero elevado de indivíduos com características muito heterogéneas.

Não preciso de ter dados, ou de ter listas, só necessito de criar cachos com a mesma dimensão.

Amostra por níveis

A amostra por níveis pode ser incluída dentro do capítulo das amostras probabilísticas, embora normalmente recorra a técnicas não probabilísticas, isto é com um conteúdo não aleatório.

A ideia base desta amostra é muito simples: para responder a um determinado objectivo de amostragem, não vamos proceder a um único momento de selecção, mas vamos dividir essa selecção por vários momentos.

Os vários momentos da selecção podem ser feitos por processo aleatórios, mas esta amostra permite que se utilizem várias técnicas de amostragem, combinando o probabilístico com o não probabilístico.

O recurso a técnicas não probabilistas permite resolver parte dos problemas resultantes da ausência de listagem ou de bases de sondagem, que pela sua inexistência inviabilizavam a amostra aleatória propriamente dita.
A estratificação por habitat que é o indicador do grau de urbanização pode ser um elemento de estratificação numa amostra por níveis. Assim imaginemos a divisão administrativa do país, com os distritos, concelhos e freguesias, cada um representando diferentes níveis. Só no último nível eu vou recolher os indivíduos que são a minha verdadeira amostra.

Mas não estou obrigado a utilizar o aleatório. Se tenho informação sobre os distritos posso estratificar. Melhor ainda posso saltar etapas e partir das freguesias estratificadas, por exemplo em rurais e urbanas, e depois definir níveis mais pequenos (povoações, quarteirões, prédios) até chegar aos indivíduos que são quem me interessa estudar.

É necessário ter em mente as regras da amostra de níveis:

1 – Devo preferir um número elevado de unidades de primeiro nível.
2 – Se possível deve estratificar.

Como o que me interessa obter a representatividade geral, não estou preocupado em criar representatividade ao nível de freguesia. Assim basta-me 3 ou 4 indivíduos recolhidos em cada último nível, obtendo o máximo de pontos de amostragem pelo país. Deste modo consigo obter uma diversificada e representativa do país apesar de não ser representativa de cada uma das freguesias.

Portanto, para haver uma correcta representação na escolha das unidades primárias é preciso que:

1 – O numero de unidades primárias escolhidas seja relativamente elevado, para criar um numero elevado de locais de amostragem, ou de pontos de amostragem, para permitir captar toda a diversidade do universo, porque depois, a diversidade de caracterização dentro do espaço é mais fácil de conseguir.

2 – Se estas unidades primárias forem, no universo, relativamente heterogéneas, há todo o interesse em que essa selecção das unidades primárias seja, não só aleatória, mas também estratificada.

Depois da selecção das unidades primárias, a selecção das unidades secundárias irá assegurar a qualidade, no que diz respeito à selecção das unidades propriamente ditas, havendo, se necessário, recurso à estratificação nesse nível também.

Amostra por fases

- Tenho base de sondagem
- Não tenho dados

A amostra por fases que muitas vezes se confunde com a amostra por níveis é uma selecção feita em dois momentos do tempo.

Numa primeira fase tiro à sorte um número muito elevado de unidades estatísticas (por exemplo: 5000), que vou seleccionar à sorte. Depois faço um inquérito breve onde pergunto as variáveis que me interessam para depois, de acordo com o resultado do inquérito, poder estratificar.

Numa segunda fase, já com dados do universo posso fazer uma amostra final estratificada com um número reduzido de indivíduos (por exemplo 400), sorteados novamente do universo.

- Não tenho base de sondagem
- Não tenho dados

Também posso construir uma amostra por fases sem recorrer ao método aleatório.
Assim, numa primeira fase, recolho os elementos para estratificar, por exemplo seleccionando pontos de amostragem ou áreas para depois seleccionar unidades de amostragem (por exemplo: de três em três). Nesta primeira fase apenas recolho os dados necessários para estratificar. Esta amostra deve ser suficientemente grande para limitar os erros de amostragem.

Depois de trabalhados os dados, posso construir a nova amostra estratificada e com uma dimensão mais reduzida.

Muito importante: Se a opção for pelo processo não aleatório, não basta fazer uma primeira amostra muito grande, ela também tem de ser muito bem pensada. Já se o processo for aleatório podemos garantir que ela seja representativa do universo.

Amostra por quotas

- Não tenho base de sondagem
- Tenho dados

Se a amostra estratificada e a amostra por quotas se baseiam numa estratificação do universo, já na selecção dos indivíduos podemos encontrar diferenças. Enquanto na amostra estratificada, seleccionamos os indivíduos aleatoriamente, na amostra por quotas a selecção é acidental. Isto é, vão-se seleccionando os indivíduos à medida que se encontram.

Assim, construo um elevado número de variáveis para estratificar. Quanto maior for essa estratificação mais difícil se torna encontrar os indivíduos e com isso menos será a interferência do inquiridor.

Para reduzir a influência do inquiridor, divide-se o plano de amostragem em dois níveis:
1 – Selecciona-se os pontos de amostragem.
2 – Seleccionam-se os indivíduos.

Para seleccionar os pontos de amostragem (localidades, por exemplo) já tenho base de sondagem. Posso tirar à sorte, mas se o fizer pode não me sair Lisboa que é maior localidade do país. No entanto, se estratificar, crio grupos homogéneos de localidades e posso recorrer à selecção aleatória. Porém no caso de Lisboa ou Porto, elas são únicas no estrato. Logo, não as sorteio, escolho-as. As restantes localidades são escolhidas em função do número de entrevistas que quero fazer em cada localidade de acordo com as variáveis (regionais) definidas na estratificação. Aqui posso sortear.

Depois na selecção dos indivíduos vou impor regras aos entrevistadores utilizando sistemas próximos do aleatório como o random route. Ou em alternativa posso estabelecer quotas exigindo que entreviste pessoas com determinadas características que não seria possível encontrá-las todas juntas.

Com este processo eu tenho uma amostra quase perfeita, porque foi estratificada por região e habitat, com selecção aleatória das localidades e dentro das localidades impôs-se um caminho aleatório que não deixa espaço de influência ao entrevistador.

Amostra bola de neve

- Não tenho base de sondagem
- Não tenho dados

Para tentar encontrar um grupo muito reduzido de pessoas, a melhor forma é partir de um ponto onde essas pessoas se costumam reunir ou associar. Depois de identificar alguns elementos, fazer a entrevista e no final pedir contactos de outras pessoas com o mesmo interesse ou características. Deste modo vamos construindo a amostra até atingir um número razoável ou o número inicialmente pensado para a amostra.

O menor rigor neste processo é compensado com uma maior homogeneidade do universo.

Amostra pensada

Trata-se da amostra que resulta das hipóteses teorias do próprio investigador. O investigador parte do pressuposto que aquela amostra é o que melhor ilustra determinada realidade. O investigador necessita de ter bases muito concretas para fundamentar a sua opção.

Argumentos para uma crítica genérica ao pensamento de Marx


É possível encontrar nas nossas sociedades contemporâneas (capitalistas) combinações com características específicas das sociedades de “ordens”. Este conceito não é, todavia, similar ao das sociedades medievais (ancien regime) todavia, há uma equivalência, o que permite pensar que as sociedades actuais não são puras (com mercado livre e acentuada mobilidade social).

Este debate à volta da impureza da sociedade de “classe” foi introduzido por um conjunto de sociólogos, a partir da 2ª guerra mundial, num modelo de industrialização. A este processo vão chamar-lhe “pós-industrial”.

A questão da propriedade privada dos meios de produção, que está na base da estratificação social das classes, segundo a teoria marxista, pode não ser a única fonte de estruturação social.
Argumentos: Disseminação da propriedade. Apesar da monopolização das empresas, em resultado da competição no mercado, a propriedade não se concentra num pequeno número de pessoas.
Ocorreram transformações nas estruturas internas das empresas, quer a nível de organograma vertical quer nas relações horizontais. Estas transformações vão criar condições diferenciadas, em termos de controlo da própria empresa, quer através de processos de regulação e controlo da autoridade. Estas alterações tornam-se mais notórias com a revolução dos gerentes, correspondente à categoria profissional dos quadros. O critério da distribuição de poder dentro das empresas já não passa pela posse da propriedade.

A par da questão da propriedade, entra um novo recurso que por vezes não anda em paralelo com o conceito de propriedade e que é caracterizador das diferenças sociais: Conhecimento. Ter ou não ter conhecimento, ter ou não ter informação passa a estar relacionado com a evolução tecnológica e com a forma como se distribuem e maximizam as relações humanas dentro de uma empresa.
Este grupo (gestores), nem sempre está associado à economia (e portanto indirectamente ao capital), vindo das mais variadas áreas disciplinares.

O que fundamenta e justifica a entrada e acesso aos quadros?

Inicialmente é a experiência, como conhecimento (antiguidade), e a fidelidade à figura do empresário. A partir dos anos sessenta, em virtude da massificação escolar, o que vai fundamentar o acesso aos quadros é a posse de um diploma universitário. O mérito empresarial vai deslocar-se para o mérito escolar tendo assim, repercussões directas na distribuição salarial.
A posse se informação e conhecimento, pode não estar associada à posse da propriedade privada dos meios de produção, mas acaba por dar o poder e autoridade no controlo e regulação das empresas (já não são os proprietários que detêm o controlo, mas sim os gestores que controlam a programação da sua organização, quer a nível interno quer a nível externo).
No quadro das empresas, quer os gestores, quer os profissionais de topo das empresas ou os profissionais liberais, funcionam como numa sociedade por ordens, ou seja, com regras próprias (como é o caso das regras e exigências de acesso ao corpo profissional).
Assim os mercados de trabalho são fechados, porque nem todos têm acesso a ele, originando um processo de fechamento social, com o propósito de maximizar os benefícios sociais destes grupos mantendo a posição social valorizada.
Isto é importante, mas não é suficiente, pelo que o mercado se alarga, nomeadamente ao nível matrimonial, criando uma afinidade de estilos de vida. É neste sentido que poderemos considerar estes grupos (gestores, médicos, advogados e funcionários de topo) como estando agregado em ordens, cruzando-se esta com a estratificação em classes sociais.

As três revoluções

As três revoluções ocorridas no século XVIII tiveram um grande impacto na visão do mundo. As desigualdades sociais começam a ser vistas como o resultado da diferente distribuição dos bens sociais e não como o produto de uma organização divina.

As desigualdades sociais passam a fazer parte da agenda politica e a serem discutidas pela ordem pública. Inicialmente esta discussão pertence apenas às elites políticas, ligadas aos grupos dominantes com poder económico, mas ao longo do tempo ela democratiza-se devido ao papel da escola.

Efeitos políticos da revolução francesa:
Constituiu a figura do cidadão.
Instituiu o poder da lei e o poder dos direitos do cidadão face à lei.
Constituiu a política representativa, onde existem corpos políticos nos quais se delega representação.
Instituiu a soberania geral, sendo soberano aquele que é eleito.
Acentua o individualismo, associando-o a uma comunidade universal.
Secularizou as relações familiares, permitindo o divórcio e impondo a igual distribuição familiar por todos os filhos.
Reduziu o papel da família, arrancando os filhos de uma educação familiar, para uma educação escolar, com os professores a representar os interesses do estado e não dos pais.
Estas alterações da propriedade privada, da família e da escola permitiram uma maior mobilidade de ideias, fomentada por uma maior mobilidade física.

Definição de Classe

Significa distribuição de características diferenciadas e individuais, em grupos.
Na classificação por classes existe desigualdade. Os bens sociais, que o estado do século XVIII começa a reconhecer como bens universais, estão desigualmente distribuídos. A classificação por classes diferencia os indivíduos entre aqueles que conseguem utilizar determinados bens e os outros que não o podem fazer.
Com a definição de “classe social” a explicação da desigualdade passa a ser de origem social e humana e não divina.

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A dessacralização dos fenómenos sociais

Antes do século XVIII os fenómenos sociais eram explicados através do divino. Era pela vontade de Deus que as desigualdades sociais se justificavam e esta concepção de ordem social manteve-se até que três importantes acontecimentos ocorreram, marcando uma mudança de mentalidades.

Revolução francesa: Esta revolução, com a sua forte componente politica, inova na medida em que os seus ideais colocam todos os cidadãos perante a lei em iguais circunstâncias, resolvendo assim os problemas das desigualdades políticas.

Revolução Americana: Esta revolução cria condições para que os Estados Unidos da América sejam o primeiro país a experimentar o sistema democrático.

Revolução Industrial: Contribui para profundas transformações económicas.

Estes três acontecimentos contribuíram para a dessacralização social. Foi, no entanto um processo lento, dando origem a novas percepções que contribuíram para uma alteração da forma como os indivíduos olham a sociedade a nível social. Até então, apenas as elites tinham a percepção de que os bens materiais e simbólicos não eram distribuídos por todos da mesma forma.

É a partir destes três acontecimentos que as desigualdades sociais se transformam num problema político. Surgem preocupações ao nível da classificação social, com o estado a procurar criar uma contabilidade pública e sistemas de impostos. Surge uma racionalidade burocrática, criando fronteiras administrativas e através desses dispositivos controlando a regulação social.

Essa racionalidade burocrática torna politicamente visível e com carácter universal que todos os seres humanos pertencem a uma única comunidade que se distingue de outras (animais, põe exemplo). Contratualizam-se e criam-se convenções sociais (contratos como o casamento ou laboral). Esses contratos, tanto se fazem como se desfazem, o que marca uma diferença em relação ao passado, dado que as pessoas estavam presas a esses laços pessoais. Por último, surge uma política de singularidade, através de um processo de individuação – o indivíduo é “arrancado” à comunidade.

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A importância da propriedade

A racionalidade (época das luzes) tem consequências económicas. A razão passa a ser inerente ao próprio crescimento do indivíduo. A revolução industrial deu um rude golpe nas sociedades organizadas em Ordens. Houve uma profunda reestruturação nas relações entre os indivíduos tornando-as em relações de Classes.

Isto significa que, do ponto de vista político, há uma transformação no conceito de propriedade. Isto é: o estado torna legítimo, do ponto de vista jurídico, a existência da propriedade privada, simultaneamente a propriedade torna-se impessoal, deixando de ser da família, igreja ou comunidade, de forma abstracta (da família X; dos duques de Y), passado a ser transaccionável. Com a igualdade de direitos para todos os herdeiros a propriedade vai atomizando-se.

Vão aparecer dois grandes grupos, por um lado os que têm propriedade e, por outro, os que não têm. Estes grupos são diferentes entre eles, mas também internamente. Na linguagem marxista representam a burguesia e o proletariado.

A revolução industrial levou mais pessoas para as cidades e, dentro destas, para um espaço mais circunscrito em torno da fábrica. A industrialização tem consequências quer ao nível do espaço quer ao nível do tempo. Por um lado surgem os bairros operários, por outro o ritmo de trabalho é ditado pela fábrica. A sirene da fábrica passa a marcar o início e final da jornada de trabalho.Com a integração da mulher na população activa, as famílias são obrigadas a gerir de forma diferente o seu espaço doméstico.

As transformações tecnológicas (máquina), associadas a estas novas relações de trabalho, introduz o conceito de produtividade. Com a máquina os operários produzem mais, com menos esforço.

Todavia existe o reverso da medalha. Com as novas tecnologias surge um processo de alienação. A máquina desumaniza o homem. A rotina do trabalho também. Por outro lado, a propriedade, sendo impessoal e transaccionável tende a tornar-se monopolizável e susceptível de ser cartelizada.

Aumenta a autonomia dos indivíduos (Individuação)
Os quadros normativos tornam-se mais abstractos (Abstracção)
A modernidade promove a mobilidade, quer ao nível de trocas comerciais, quer de pessoas e ideias. Os laços entre os indivíduos generalizam-se (Generalização)

As Classes Sociais segundo Marx

A revolução industrial transformou por completo as relações económicas, bem como a separação da igreja e estado. Isto permite que, em 1848, Marx escrevesse o manifesto do partido comunista. Nesse manifesto, Marx já identifica os três princípios de análise das classes sociais.

Princípio da Identidade.
Princípio da Oposição.
Princípio da Totalidade.

O princípio da oposição significa que as classes não existem separadamente, mas resultam da relação que estabelecem com outras classes. Essa relação é assimétrica, dando origem a oposições de interesses. É através desse conflito de oposição que se produz a identidade de classe.

A infra-estrutura económica e a superestrutura política

É no âmbito da infra-estrutura económica e da superestrutura politica que se articula o conceito de classe social.

Conceitos fundamentais de Marx:
Modo de produção: Este conceito é designado como sendo um ideal tipo.
Formação social: Refere-se a um território administrativo, jurídico, politico, etc. (portuguesa, chinesa).

O modo de produção tem uma capacidade explicativa de uma dada função social. Tipifica um conjunto de relações económicas entre classes (infra-estruturas dos meios de produção) e a expressão politica, doutrinal e ideológica ao nível da superestrutura. É por isso que o modo de produção esclavagista, tem um quadro estrutural de relações económicas entre as classes e uma expressão politica completamente distinta do modo de produção capitalista.
Todavia, numa dada formação social concreta podem, em certos momentos da história, coexistir mais do que um modo de produção.

Infra-estrutura económica: revela uma dada distribuição das classes, num quadro de relações económicas, consoante os modos de produção. Essa estrutura apresenta uma configuração específica (um tipo especifico de relações entre classes.
Marx aprende com os historiadores que a conservação, ou alteração dessa estrutura, está também dependente da superestrutura, ou seja, da expressão politica, ideológica e doutrinal dessa superestrutura.
Marx, para além destes conceitos, e no âmbito dos modos de produção, apresenta mais dois:

Forças produtivas.
Relações sociais de produção.

Forças produtivas: Esta noção engloba a força de trabalho humano (acrescenta valor ao trabalho) e os meios tecnológicos associados aos instrumentos de trabalho.
As mudanças que se vão alterar na força de trabalho humano e nos instrumentos, vão ter influência na forma como o trabalho é organizado (sistema feudal ou capitalista), passando de uma forma de organização assente na terra, para outra assente na fábrica.
Relações sociais de produção: As mudanças de modo de produção, ou alterações num modo de produção resultam de um conflito entre as forças produtivas e as relações sociais de produção. Para Marx as mudanças são mais rápidas no âmbito das forças produtivas do que no âmbito das relações sociais de produção.

Modos de produção identificados por Marx

Modo de produção do comunismo primitivo
Modo de produção esclavagista
Modo de produção feudal
Modo de produção capitalista
Modo de produção comunista – socialista final

Estas alterações entre os vários modos de produção têm a ver com as mudanças que se vão verificando na divisão social do trabalho a partir do momento em que as populações se fixam (no comunismo primitivo não havia essa divisão, mas sim uma divisão sexual do trabalho). Deste modo, a divisão social do trabalho resulta dos excedentes da produção (uns produzem, outros vendem). Surge a especialização do trabalho.

A historia dos modos de produção, segundo Marx, resulta das complexidades que se vão verificando na divisão social do trabalho que, por sua vez resulta da complexidade das relações sociais de produção e das forças produtivas.

O modo de produção socialista final é projectado por Marx como o fim da propriedade e, por isso, também o fim das desigualdades entre as classes. Segundo Marx, o sistema capitalista criou os factores do seu próprio desaparecimento. A competição económica favorecida pelo sistema de mercado liberal, fez com que houvesse na história do capitalismo uma concentração das empresas, tendo como efeito o desaparecimento das empresas mais fracas que, assim, eram absorvidas pelas empresas mais fortes. Assistiríamos, portanto a uma concentração dos capitais, reduzindo, e transformando a burguesia numa classe muito minoritária.
Por outro lado, com o alargamento da classe do proletariado, os trabalhadores assalariados iriam ficar cada vez mais pobres, criando um cenário de conflito social (luta de classes) entre trabalhadores e a pequena burguesia.
Para resolver o conflito, Marx propõe a passagem a um novo modo de produção em que a maioria (o proletariado) toma o poder, pondo em prática a ditadura do proletariado, fundamentada na abolição da propriedade. Isto porque, para Marx, o critério fundamental da exploração capitalista reside na existência jurídica da propriedade. Abolindo juridicamente a sua existência, automaticamente desaparecem as desigualdades entre as classes.

Nas origens do pensamento de Marx

O conceito de estrutura social é amplo e dá-nos um primeiro desenho de como as pessoas se distribuem no sistema social.
A estrutura de classes é um caso particular. É um conceito de estrutura social mais amplo e desenha um conjunto de relações entre as classes, em função do lugar que as classes ocupam no sistema de relações económicas. Pretende-se mostrar que as relações entre os grupos sociais são a expressão do sentido de lugar que estes grupos ocupam na estrutura das relações económicas.

Anteriormente, já havia a ideia de que existiam actividades, mais pesadas umas dos que as outras, em que era necessário pessoas adequadas para cada função (por exemplo: os escravos). Havia também uma ideia quanto à distribuição dos bens com base teológica (critérios divinos).
A partir do séc. XVII começam a surgir as primeiras reflexões sobre esta dicotomia entre fortes e fracos.

La Bruyére produziu um livro (“Les Caracteres”) onde discute a existência de diferentes formas psicológicas de estar socialmente. Entre os nobres e o povo, o objecto que fazia a diferença era a reacção perante a morte. Ele dizia que os nobres não tinham medo perante a morte, estando sempre prontos para o duelo (respeito pela sua dignidade), mesmo que isso pusesse em causa a sua vida. Ao contrário, o povo tinha medo perante a morte, porque não deixavam herança nem linhagem.
Estes dois pensamentos distintos eram, na opinião de La Bruyére, influenciados pelo lugar que estes ocupavam na sociedade de ordens (uns em cima e outros em baixo).

Jerónimo de Molina escreveu o livro “Vivir contra la fortuna”. Tinha características semelhantes ao anterior, ou seja, analisava as diferenças de comportamentos, mas em relação à alimentação. Os nobres, como se alimentavam bastante, produziam sangue de melhor qualidade.

Assim, no séc. XVII começa a esboçar-se um pensamento centrado nas diferenças sociais e não centrado numa explicação teológica. Este pensamento está relacionado com as condições políticas e económicas dos respectivos países: nessa altura França e Espanha estavam muito ancoradas ainda na sociedade de ordens.

Sensivelmente na mesma altura, mas em Inglaterra, que tinha, então um grau de evolução superior ao de França ou Espanha, Gregory King, autor de “Aritmética Política”, resolve dar um primeiro desenho da forma como era distribuído o rendimento nacional inglês. Assim, através de uma base de cálculo cuja unidade de observação são as famílias, fazia a média do rendimento de cada agregado familiar para obter o rendimento global nacional. Concluía que a forma como o rendimento é distribuído tem efeitos políticos. Percebem-se assim que havia famílias que tinham mais rendimentos do que outras, originando uma divisão em classes.

Em meados do séc. XVII e inicio do séc. XVIII, em França, um economista Richard Chantillon tentou elaborar um primeiro circuito económico, ou seja, um primeiro olhar sobre a distribuição dos bens económicos. Primeira ideia central: apesar de em França a base económica continuar a ser a agricultura, já se estava a desenvolver o renascimento das cidades, fruto do desenvolvimento do comércio. Isto surge com a exploração da economia mercantil. Começas assim a florescer outros mercados, para alem dos mercados agrícolas.
O autor percebeu que havia uma circulação de bens económicos entre o campo e a cidade (a economia combinava e articulava o mercado urbano e agrícola). Percebe ainda que há três grupos, com três tipos de rendimentos associados a três tipos de actividades:

Aqueles que detinham a propriedade da terra.
Os trabalhadores agrícolas.
Os comerciantes e artesãos que viviam nas cidades.

Perante estes grupos, o autor identificou as seguintes dinâmicas:
Os trabalhadores agrícolas eram o grupo produtivo dos outros dois. A força dos proprietários da terra, uma vez que tinham influencia politica permitindo o acesso ao poder monárquico, fazia com que os dois outros grupos ficassem dependentes dele.
Os rendimentos estavam assim distribuídos: dois terços estavam ligados aos trabalhadores agrícolas, um terço estava distribuído pelos proprietários da terra. Porém os proprietários da terra gastavam todo o seu terço na cidade, enquanto que os trabalhadores da terra gastavam um quarto de dois terços (portanto 1/6) na cidade, sendo o restante reinvestido nos campos. Assim metade dos rendimentos ião parar às mãos dos comerciantes.

Mais tarde, em plena revolução industrial, um outro economista – David Ricardo, desenvolve uma teoria económica em torno do valor do trabalho. Surge uma primeira análise anatómica do sistema capitalista, porque identifica o nó central que está na base da exploração capitalista.
O autor afirma que o valor da mercadoria é medido pelo valor do trabalho humano acrescentado a essa mercadoria. Esta análise está no centro dos custos de produção da economia capitalista. David Ricardo distribuiu o rendimento económico em Inglaterra, por três grupos:

Os proprietários das terras (viviam das rendas).
Os capitalistas (viviam dos rendimentos da actividade empresarial).
Os assalariados (viviam do seu trabalho).

Ele identifica dois tipos de conflito entre os proprietários da terra e os capitalistas, uma vez que a subida das rendas aumentava o custo de produção empresarial que por sua vez se repercutia nas condições de vida dos assalariados. Havia ainda outra dicotomia entre os capitalistas e os assalariados, porque havia uma relação inversa entre os lucros e os salários (quando os lucros aumentavam os salários baixavam e vice versa).

No mesmo período, surge em França Quesnay e a corrente “fisiocrata” , associada à importância da terra. Quesnay divide a sociedade francesa em três grupos:

Proprietários das terras
Classes produtivas
Classes improdutivas

As duas últimas classes estavam na dependência da primeira.

Lição a tirar destes economistas:

Há aqui um esforço de pensamento económico, para explicar as desigualdades sociais. Estas desigualdades só podem ser explicadas a partir da condição de classe, no quadro das relações dessas classes no sistema económico.

Há, ainda, um contributo do historiador da revolução francesa, Therry et Guizet que desmontou o mito do terceiro estado. Ele afirma que este grupo era fraccionado, havendo ambiguidade de posições do povo face ao conflito político, defensor dos interesses burgueses e partidos aristocratas.

O sistema das relações económicas é determinante, nas relações entre as classes, mas é determinado pela explicação politica dessas relações. O sistema das relações económicas vai espelhar a estrutura politica. Vai levar a uma articulação entre a infraestrutura económica e a superestrutura política.

Organização e distribuição das diferenças sociais

Os conceitos de ORDEM, CASTA e CLASSE, são formas de representação social diferenciadas, onde são codificadas essas representações.
As formas de representação social têm interferência no modo como os indivíduos se comportam nas relações com os outros e o comportamento tem a ver com a forma como os actores sociais se relacionam entre eles.

Quando atribuímos sentido às coisas, produzimos representações sociais. Estas representações sociais evidenciam múltiplos registos de uma realidade social organizada segundo diferenças sociais. Desta forma os actores objectivam a aproximação ou o afastamento entre eles (ou se identificam ou não se identificam; ou há afinidade ou não há; ou pertencem ao mesmo grupo ou não pertencem), estabelecendo diferentes graus para mediar essa distância.
Os actores representam porque observam. E, ao observar, percepcionam essa realidade. Depois de captada, a realidade é socialmente trabalhada, sendo em seguida representada. Porém, nem todos os actores observam e representam da mesma forma esta realidade social. Há aqui uma relação directa com os atributos e trajectórias sociais (onde nascemos, o percurso social que fazemos, a mobilidade social que temos, o que lemos, etc.).
Estas diferentes formas de organizar as diferenças, seja em Ordens, Castas ou Classes, devem-se ao modo como os diferentes actores percepcionam e organizam a realidade social. Ou seja, a forma como os actores percepcionam a hierarquia das relações de poder e de autoridade, são também elas distintas nos diferentes sistemas sociais.

Sociedade de Ordens

Aparecem organizadas na idade média na Europa Ocidental. Do ponto de vista da configuração politica, as ordens tinham um peso muito forte em relação ao Estado. Toda a representação da sociedade de ordens estava organizada nas crenças, valores e ideais produzidos pela ordem, ou estado, dominante. Os seus valores predominantes eram aqueles que eram trabalhados pelo estado dominante. O critério era a linhagem, “o berço” da família. Neste sentido as relações de conjugalidade tinham uma forte tendência “endogâmica”. Assim preservavam-se as fronteiras dos “Dominantes”. Apesar de alguma mobilidade entre as classes, o seu percurso era lento, sendo necessário três gerações até o individuo ser aceite como elemento do grupo.

Sociedade de Castas

As sociedades de castas assentam na pureza religiosa. São grupos sociais fechados, com casamento endogâmicos e uma reduzidíssima mobilidade social. Nesta sociedade, os indivíduos não ascendem socialmente, mas é toda a casta que pode ascender a um nível social superior. O comportamento do indivíduo pode levá-lo a ser banido da sua casta, obrigando à criação de uma nova sub-casta a que pertencerão todos os seus descendentes.

Sociedade de Classes

O critério passou a ser o acesso à propriedade privada, dos meios de produção. A revolução industrial produziu uma profunda alteração na divisão social do trabalho, porque tornou claro, do ponto de vista social, a relação entre aqueles que trabalham e os que são detentores dos meios de produção.
A sociedade rompe com a barreira dos costumes e da tradição, porque assenta no princípio de igualdade dos cidadãos perante a lei, permitindo uma maior mobilidade geográfica e social. O critério de conjugalidade deixa de ser o único critério que enforma os projectos e as dinâmicas sociais.

12.2.07

Do Empresário ao Gestor

Segundo Max Webber, o espírito do capitalismo assenta em três vectores importantes:
- Empresa
- Empresário e
- Racionalidade Burocrática (risco calculado; planeamento na base do risco).

Porém, em 100 anos de capitalismo ocorreu uma importante mudança:
O Empresário foi substituído pelo Gestor.

O capitalismo, inicialmente atomista e familiar, assente no conceito de projecto e na moral que esse projecto traduz na moral económica, passa, devido à concorrência na conquista dos mercados, a basear-se na eficácia, produzindo mais com o menor custo possível. Quem ganha já não é quem arrisca, mas quem tem mérito.

É nesta altura que ganha importância o diploma escolar como fundamento das relações dentro da empresa.
Simultaneamente as sucessivas fusões entre empresas familiares dão origem a empresas de grandes dimensões que se transformam mesmo em monopólios ou oligopólios. A figura do empresário dilui-se e transforma-se em accionista. É neste quadro que os gestores começam a ter cada vez mais peso.

“Les cadres” de Luc Boltanski explica bem a ascensão dos gestores.

Os quadros nascem e constituem-se como produto de um trabalho político, desenvolvido por certos Porta-vozes (em particular engenheiros ligados à igreja católica), como forma de constituir um certo equilíbrio social na conflitualidade existente entre operários e proprietários. Transforma-se assim num corpo para amortecer a conflitualidade entre os dois pólos extremos do conflito de classes (a burguesia proprietária e o operariado).

A génese dos quadros desenvolve-se com a expansão das classes médias.
O princípio do poder e da autoridade assenta na antiguidade do posto como gratificação para a mobilidade profissional. Só a partir dos anos sessenta o diploma escolar passa a constituir fundamento da autoridade e do poder. Simultaneamente decorre o processo de massificação das universidades.

Esta alteração vai dar novas dimensões ao mercado. A propriedade privada dos meios de produção vai concorrer com outros recursos, entre os quais se destacam o capital cultural (na sua dimensão escolar) e o capital social.

Formação das representações sociais

Condutas desviantes

Não é a sociedade que obriga a determinados comportamentos, mas sim um conjunto de actores sociais que estão mandatados para tal.

Universo simbólico

(verificar definição)

Terapêutica
Mecanismo através do qual os actores com comportamento desviantes se mantêm integrados nas instituições (psicanálise, psicoterapia, acompanhamento)
Conhecimento desenvolvidos por peritos identificam os problemas e explicam porque é que ocorrem e qual a forma de actual sobre eles.

A terapêutica é tanto mais eficaz quanto mais os actores desviantes entenderem que a sua situação é um problema e que são deficitários face à sociedade. Desenvolvem-se sentimentos de culpa, vergonha nos indivíduos.

Mecanismos de aniquilação
Visam liquidar os indivíduos desviantes.
Pode ser Conceptual – quando se atribui um status inferior a um grupo étnico.
Pode conduzir à liquidação física por formas de justificação de que “não há nada a fazer e são um risco”.
Aplica-se a grupos ou indivíduos que não são integrados na sociedade a que pertencem.

Nas sociedade contemporâneas e pluralistas torna-se mais difícil accionar de modo eficaz os mecanismos terapêuticos e de aniquilação.

1 – Porque nas sociedades pluralistas se verifica uma forte legitimação (autonomia) e complexidade com formas de conhecimento separadas
2 – Porque surgem formas de legitimação divergentes com modelos de comportamento divergentes e nalguns casos divergentes do modo de funcionamento da sociedade. Estas formas de legitimação coexistem no mesmo espaço e no mesmo tempo.
3 – Porque o desenvolvimento dos meios tecnológicos, designadamente dos meios de comunicação com contacto mais fácil às diferentes formas de legitimação (provocam um estreitamento do espaço e tempo).

Peritos
Ao tentarem impor a sua versão do conhecimento, os peritos possuem recursos diferentes: económicos e simbólicos.
Ocupam posições sociais concretas e portanto têm interesses sociais a defender. Esses interesses têm influência no conhecimento que produzem
Quanto mais poder simbólico seja conferido a esses peritos, tanto mais o conhecimento por eles produzido é aceite.

Ideologia
(ver definição)

Interiorização

Exteriorização → Objectivação → Interiorização

São as 3 dimensões da construção social da realidade

Representam a forma como a sociedade é

Produzida → Questionada → Entendida

A construção social dos indivíduos resulta da sua construção da sociedade.

O processo como a interiorização da sociedade se desenvolve é a socialização

Socialização
Consiste na ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objectivo de uma sociedade ou num segmento particular dessa sociedade.

Linguagem
É o mais importante instrumento de socialização. É através da linguagem que se traduzem os esquemas que são interiorizados na vida humana.

Socialização primária
A socialização na infância. Estabelece uma relação de grupo de pertença na qual o indivíduo se posiciona. Posição social e de classe.
Nesta fase não se coloca o problema de identificação mas sim o de pertença. Não se questiona, pertence à única forma de conhecimento possível.
Há o reconhecimento que esta forma de socialização decorre de altos graus de emoção.
Ex.: Família, Parentesco, Nação, País.

Socialização secundária
Qualquer processo subsequente à socialização primária, com o individuo já socializado. Resulta na inscrição no indivíduo de um conjunto de conhecimentos estritos (escolar, militar, profissional, juvenil, tribal), aprendidos no interior de grupos sociais ou instituições sociais específicas.
Já não é dado como adquirido mas pode ser escolhido ou rejeitado. Tem carácter opcional.

Condutas desviantes e processos de socialização

Condutas desviantes

Não é a sociedade que obriga a determinados comportamentos, mas sim um conjunto de actores sociais que estão mandatados para tal.

Universo simbólico

(verificar definição)

Terapêutica
Mecanismo através do qual os actores com comportamento desviantes se mantêm integrados nas instituições (psicanálise, psicoterapia, acompanhamento)
Conhecimento desenvolvidos por peritos identificam os problemas e explicam porque é que ocorrem e qual a forma de actual sobre eles.

A terapêutica é tanto mais eficaz quanto mais os actores desviantes entenderem que a sua situação é um problema e que são deficitários face à sociedade. Desenvolvem-se sentimentos de culpa, vergonha nos indivíduos.

Mecanismos de aniquilação
Visam liquidar os indivíduos desviantes.
Pode ser Conceptual – quando se atribui um status inferior a um grupo étnico.
Pode conduzir à liquidação física por formas de justificação de que “não há nada a fazer e são um risco”.
Aplica-se a grupos ou indivíduos que não são integrados na sociedade a que pertencem.

Nas sociedade contemporâneas e pluralistas torna-se mais difícil accionar de modo eficaz os mecanismos terapêuticos e de aniquilação.

1 – Porque nas sociedades pluralistas se verifica uma forte legitimação (autonomia) e complexidade com formas de conhecimento separadas
2 – Porque surgem formas de legitimação divergentes com modelos de comportamento divergentes e nalguns casos divergentes do modo de funcionamento da sociedade. Estas formas de legitimação coexistem no mesmo espaço e no mesmo tempo.
3 – Porque o desenvolvimento dos meios tecnológicos, designadamente dos meios de comunicação com contacto mais fácil às diferentes formas de legitimação (provocam um estreitamento do espaço e tempo).

Peritos
Ao tentarem impor a sua versão do conhecimento, os peritos possuem recursos diferentes: económicos e simbólicos.
Ocupam posições sociais concretas e portanto têm interesses sociais a defender. Esses interesses têm influência no conhecimento que produzem
Quanto mais poder simbólico seja conferido a esses peritos, tanto mais o conhecimento por eles produzido é aceite.

Ideologia
(ver definição)

Interiorização

Exteriorização → Objectivação → Interiorização

São as 3 dimensões da construção social da realidade

Representam a forma como a sociedade é

Produzida → Questionada → Entendida

A construção social dos indivíduos resulta da sua construção da sociedade.

O processo como a interiorização da sociedade se desenvolve é a socialização

Socialização
Consiste na ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objectivo de uma sociedade ou num segmento particular dessa sociedade.

Linguagem
É o mais importante instrumento de socialização. É através da linguagem que se traduzem os esquemas que são interiorizados na vida humana.

Socialização primária
A socialização na infância. Estabelece uma relação de grupo de pertença na qual o indivíduo se posiciona. Posição social e de classe.
Nesta fase não se coloca o problema de identificação mas sim o de pertença. Não se questiona, pertence à única forma de conhecimento possível.
Há o reconhecimento que esta forma de socialização decorre de altos graus de emoção.
Ex.: Família, Parentesco, Nação, País.

Socialização secundária
Qualquer processo subsequente à socialização primária, com o individuo já socializado. Resulta na inscrição no indivíduo de um conjunto de conhecimentos estritos (escolar, militar, profissional, juvenil, tribal), aprendidos no interior de grupos sociais ou instituições sociais específicas.
Já não é dado como adquirido mas pode ser escolhido ou rejeitado. Tem carácter opcional.

O controlo social

O controlo social decorre do facto das instituições sociais tipificarem quer as acções que os actores sociais devem desenvolver, quer os actores que as devem executar.

O controlo do desempenho dos indivíduos nas instituições é feito pelo papel social, no fundo, o que cada actor deve fazer e o que é licito esperar de cada um.

Para Ralf Dahrendorf, os papéis sociais são conjuntos de expectativas dirigidas aos ocupantes de posições numa dada sociedade.

"Os que beneficiam de determinadas posições estão dotados do direito de tomar decisões quanto a quem faz o quê, quando e como. Os que beneficiam de outras posições têm de submeter-se a estas decisões. Nem as ordens dadas e obedecidas na industria estão confinadas a tarefas de trabalho técnico: assalariamento e despedimento, a fixação de níveis salariais e de sistema de trabalho à peça, a introdução e controlo de regulamentações disciplinares, e outros modos de comportamento fazem parte das expectativas de funções dos que beneficiam de posições de autoridade na empresa e dão azo à sua estrutura de escala ou de autoridade. Para o operário industrial, o contrato de trabalho implica a aceitação de um papel que é, inter alia, definido pela obrigação de obedecer às ordens de determinadas pessoas."
(Ralf Dahrendorf)

Característica dos papeis sociais e dos papeis teatrais.
- Indicam algo que está fora do actor
- Algo que é conferido ao actor e não inato
- Corresponde a um conjunto de comportamentos esperados
- Esse conjunto de comportamentos tem que ser aprendido pelo actor antes de o saber representar.
- Nenhum papel esgota toda a representação desenvolvida pelo actor. Ele pode desempenhar múltiplos papéis.

Interiorização

É fundamental que as regras de funcionamento no interior dos espaços organizados tenham sido interiorizadas pelo indivíduo.

Este senso comum sobre a forma como funciona cada sociedade varia de acordo com cada grupo social.

Exemplos de espaços altamente estruturados:
Quartéis, prisões, escolas são espaços fortemente delimitados nos comportamentos sociais.

Se o funcionamento destas estruturas é interiorizado pelos indivíduos eles não podem ser entendidos como exterior ao indivíduo. Há continuidade entre os seus comportamentos e o funcionamento dessas estruturas.

Essas estruturas só existem através das pessoas que as põem em funcionamento.

Formas de conhecimento do social

1 – Forma de conhecimento do social constitui o cimento que permite manter a ordem social (representações colectivas de Durkheim)
2 – Estas formas de conhecimento do social funcionam na maior parte das vezes através de acções rotineiras desenvolvidas pelos indivíduos.
3 – Embora correspondam a formas de conhecimento, esse conhecimento não tem de ser profundamente intelectualizado e elaborado. São conhecimento de senso comum.

Em suma: toda a realidade social vai sendo mantida e transformada em larga medida através de conhecimentos comuns que os indivíduos transportam.

O mundo social é permanentemente construído de modo simultâneo

Exteriorização → Objectivação → Interiorização

Ao mesmo tempo que as sociedades são produções humanas, o homem é produção social.

Exteriorização

Analisar a exteriorização é analisar como se vai construindo a ordem social.

Há um conjunto de padrões que a partir do momento em que são comunicados passam a ficar entrelaçados a cada actor social.
Muitas vezes essa construção não é pacífica, mas imposta. Por exemplo nas sociedades multiraciais ou multiculturais.

Os padrões culturais podem ser assimilados por
- Imposição
- Imitação
- Influência

Essa tipificação de actividades específicas que dão origem a padrões de actividades entrelaçadas, acabam por se objectivar em instituições.

Instituição corresponde a qualquer tipificação recíproca de acções desenvolvidas pelos actores sociais

A partir do momento em que são construídas, as acções apresentam-se como objectos exteriores aos indivíduos e constituem-se em conjuntos de regras e modelos de funcionamento que são transmitidos inter-geracionalmente.

É importante ter em mente que a objectividade do mundo institucional, por mais tangível que apareça aos indivíduos, é uma objectividade construída e produzida pelo homem. Por outras palavras, apesar da objectividade que marca o mundo social na experiência humana, ele não adquire por isso um estatuto ontológico desligado da actividade humana que a produziu. Trata-se de um paradoxo que consiste no facto do homem ser capaz de produzir um mundo que depois vivência como algo não humano.
(Peter Berger/thomas Luckman)

É , em larga medida através das instituições que o mundo real se apresenta como uma realidade objectiva aos actores sociais que a constituem. Estamos perante o momento que definimos como objectivação.

Paradigmas e teorias do património da sociologia

É a partir destas teorias que se constroem modelos de análise e hipóteses, na base das questões de partida que devem ser identificadas do modo mais claro possíveis.

Este modelo permite identificar quais as metodologias adequadas e analise de interpretação dos dados.


Problemas sociais e problemas sociológicos

Problemas sociais → alvo de lutas e conflitos entre os actores sociais → decorrem de juízos de valor → variam ao longo do tempo e dos grupos sociais

Problemas sociológicos → teorias → hipóteses → metodologias

Os problemas sociais são passíveis de análise sociológica

Os problemas sociais são “abertos”:
Para uns resultam “porque se faz”
Para outros “porque não se deixa fazer”

Os problemas sociais variam ao longo do tempo e dos grupos sociais.

Os problemas sociais são produzidos através de juízos de valor e são por si próprios problemas sociológicos

O sociólogo deve estar comprometido com o património sociológico. No ponto de partida estão as correntes e modelos de análise que decorrem do património sociológico.

Definição dos conceitos básicos da sociologia → Perceber quais as relações entre eles → Desenvolver modelos de análise

Os obstáculos à investigação sociológicas

Os obstáculos à investigação sociológica

Romper com o senso comum
Tratar os factos sociais como coisas. Coisas estranhas que é necessário questionar e explicar.
O sociólogo deve promover uma atitude de distanciamento em relação aos factos sociais
Essa analise não pode ser feita através de exercícios de introspecção
Juízos de valor devem ser neutralizados

Factos sociais e factos do mundo físico:
Os factos sociais são construídos a partir das práticas dos actores sociais, sobretudo Valores e Representações (significado) a compreensão destes é essencial para que o sociólogo possa analisar esses factos sociais.

Valores, Normas e Representações são em si mesmo factos sociais que devem ser analisados.
Os valores, normas e representações devem ser entendido desenvolvendo uma atitude analítica.

A sociologia investiga valores, normas e representações que constituem os factos sociais

M. Weber: o sociólogo deve promover um distanciamento (neutralidade axiológica) em relação aos valores e normas, enquanto desenvolve a investigação sociológica.

O sociólogo também sofreu um processo de socialização similar ao de qualquer outro individuo e desenvolve interesses particulares e de grupo nesse espaço social.

Socialização é a incorporação de valores e normas particulares. Implica uma posição no espaço social.

Os interesses ou objectos desenvolvidos estão intrinsecamente ligados com os valores e normas.

O Positivismo

O Positivismo é a abordagem sociológica que recorre ao uso dos métodos científicos das ciências físicas na pesquisa social. Durkheim argumentava que a sociedade é uma realidade que existe acima e para além das actividades de cada indivíduo, da mesma forma que uma máquina é muito mais do que o conjunto das suas peças, ou um corpo é mais do que os órgãos que o compõem.
Durkheim argumentava que a sociologia podia ser uma ciência e por isso podia utilizar as mesmas técnicas. No seu estudo sobre o suicídio, Durkheim procurou provar que a melhor forma de compreender os fenómenos sociais é olhar para eles do ponto de vista da sua influência na sociedade. Um argumento que ilustra a abordagem positivista em relação à sociologia.
O estudo de Durkheim sobre o suicídio constitui um exemplo excelente para compreender o método científico nas ciências sociais e, particularmente a corrente positivista, porém também foi alvo de violentas críticas.

Suicídio Egotista
Este acontece mais frequentemente em sociedades que realçam a importância do individual em relação ao grupo. Onde há menor coesão social, ou quando o individuo se encontra mais isolado. Os solteiros suicidam-se mais que os casados. As comunidades mais individualistas (à época as comunidades Protestantes) registam mais suicídios que as comunidades mais coesas (à época as comunidades Católicas).
Suicídio Altruísta
Acontece mais em sociedades que salientam a responsabilidade do indivíduo para com a sociedade. O mártir que dá a vida pelos outros.
Suicídio Anómico
Acontece em sociedades em desordem. Durkheim reparou que a taxa de suicido aumentava quando a sociedade ou o grupo sofria uma mudança repentina. Em épocas de crise ou de grande prosperidade, as linhas orientadoras de acção proporcionadas por uma sociedade estável e ordenada desaparecem, deixando os indivíduos vulneráveis e inseguros.
Globalmente, a conclusão de Durkheim era a de que qualquer compreensão do suicídio tem de começar por uma compreensão da estrutura social. Este estudo tem sido utilizado como o exemplo de um excelente método cientifico, apesar de ter sido alvo de criticas severas quanto às suas conclusões.

A origem da sociologia

De certa forma a nossa consciência da sociedade é semelhante àquela que temos do nosso corpo. Reconhecemo-los ambos sem questionar. Até eles falharem. Só assim compreendemos porque é que a sociologia surgiu no final do século 18 e início do século 19.
Nesse período poderemos distinguir a ocorrência de três conjuntos de ideias essenciais para a sociologia: Liberdade de pensamento, consciência de crises e a convicção que algo poderia ser feito para remediar essas crises.
A este conjunto de ideias juntaram-se as três “revoluções” que ocorreram nesse espaço de tempo: a industrial, a politica e social e a científica.
Simultaneamente este fenómeno ocorre quando o poder religioso estava substancialmente enfraquecido pelo Iluminismo que realçava o humano em oposição ao sobrenatural na compreensão da sociedade, por oposto à doutrina da igreja segundo a qual a “ordem natural e social eram criações de Deus”.

O ponto crucial para a sociologia foi verificar-se uma consciência da extensão da mudança social, provocada pelo drama e agitação politica. Os fundadores da sociologia procuravam a dinâmica subjacente à mudança social e, ao fazê-lo, estavam também a procurar a base da ordem social. Essa preocupação ainda hoje pode ser encontrada na maioria dos trabalhos de sociologia.
Marx acreditava ter encontrado a base da ordem social na estrutura económica;
Durkheim comparava a sociedade a um organismo vivo que procurava satisfazer as necessidades básicas;
Weber salientava padrões regulares que podem ser entendidos e resultar de crenças particulares.

Émile Durkheim revela nos seus textos uma absoluta procura da ordem (que poderá ser consequência das rápidas mudanças sociais verificadas na sua época). No seu trabalho notam-se três grandes preocupações:
Primeiro: provar o valor e carácter distintivo da sociologia.
Segundo: analisar porque é que as sociedades se mantêm unidas
Terceiro: demonstrar as relações próximas entre as diferentes componentes da sociedade.
Podemos ver claramente que Emile Durkheim entendia os indivíduos como estando completamente sob o controlo da sociedade, da mesma forma que a marioneta é controlada pelo marionetista. Os cordões actuam sobre nas através da consciência colectiva que é o conjunto partilhado de valores sociais centrais que se encontra, segundo ele, em qualquer sociedade.
Se a consciência colectiva enfraquecer, o controlo da sociedade sobre nós perde-se e a sociedade cai num estado de anarquia em que cada indivíduo cuida dos seus interesses sem olhar às consequências sociais. A esta situação Durkheim chama Anomia, e traduz por colapso social.
Emile Durkheim formulou muitas ideias que influenciaram sociólogos positivistas.

As Regras Sociológicas de Émile Durkheim

Como romper com estes obstáculos à sociologia?
Como romper com o senso comum?
As leituras do senso comum acompanham as três perspectivas sociológicas e ainda a familiaridade e transparência do social. A realidade social é transparente e reconhecemo-la. É-nos familiar.
O sociólogo precisa de romper com estes obstáculos desde o início. Romper com os obstáculos do senso comum. O procedimento mais indicado é enunciado nas regras sociológicas de Émile Durkheim (regras do método sociológico), os factos sociais devem ser analisados como coisas. Isso não quer dizer que os factos sociais sejam similares ao mundo físico, antes deveríamos analisar os factos sociais assumindo que eles têm um carácter exterior e não se apresentam como algo evidente e tangível.

Romper com os obstáculos ao senso comum:

O processo mais indicado é enunciado nas Regras Sociológicas de Émile Durkheim (Regras do Método Sociológico).
“Os factos sociais devem ser analisados como coisas”.
Emile Durkheim não pretendia dizer que são similares aos objectos do mundo físico. Deveríamos, antes analisar os factos sociais assumindo que eles têm um carácter exterior e não se apresentam como algo evidente e tangível.
Estabelecer uma relação de distanciamento com o objecto analisado, de tal modo que se estabeleça uma relação de estranheza que é necessária para começar a questioná-lo. Isto está presente em todo o pensamento sociológico.
“Uma das condições de análise sociológica passa, em primeiro lugar, por tornar estranho aquilo que é familiar”.
A atitude científica busca explicações que não podem ser obtidas com uma atitude introspectiva e afastada de uma perspectiva interior.

Etnocentrismo

Perspectiva etnocentrica, termo que tem servido para designar dois tipos de visões ou perspectivas intimamente relacionadas.
a) Aquela que entende que valores próprios de um grupo àquele a que se pertence, são universais, assumindo que eles passam a constituir elementos básicos para a compreensão de outros grupos.
b) Aquele que admite que todas as culturas tenham os seus valores, mas que determina que os seus valores são universalizáveis porque superiores aos outros.
O Etnocentrismo põe em causa o Relativismo Analítico, essencial ao desenvolvimento da relação ideológica.
Desmontar o etnocentrismo, significa reconhecer que outras sociedades, épocas históricas ou grupos sociais não podem ser compreendidos projectando sobre eles a nossa sociedade, época histórica ou grupo particular e muito menos podem ser entendidos com base em ideologia ou de modo preconceituoso.
Em último caso, um grupo impões por métodos violentos os seus valores.
Os sociólogos usam a expressão Etnocentrismo de Classe para se referirem a processo de avaliação e dominação de classes destro de uma mesma sociedade.
Aprendizagem na escola é um exercício de etnocentrismo de classe impondo uma perspectiva burguesa de aprendizagem associada àquilo a que se chama cultura geral que é a cultura exterior.

Estudar:
Expressões simbólicas e cognitivas de dominação de classe.

O Construtivismo

No Construtivismo o actor social individual é sempre concebido como um corpo socializado. Esta socialização foi de tal forma eficiente que levou mesmo a reflectir-se no próprio aspecto físico “o próprio corpo é construído socialmente”.
Há povos com gestualidade diferente de todos os outros, com manifestações corporais em função da posição que ocupam e em função do grupo do qual fazem parte.
São condutas que parecem naturais mas que são consequência de uma aculturação (voz, linguagem corporal ou dicção características das peixeiras, tias ou regionalismos). São condutas construídas através de aprendizagem sucessiva

A sociologia entende que os seus interesses, aspirações, motivações e representações não resultam de qualquer geração espontânea, não são imanentes aos indivíduos singulares, mas resultam de facto de terem sido (e continuarem a ser) permanentemente socializados no interior de dados contextos sociais, ou de ocuparem posições no sistema social.

Para Pierre Boudieu, o indivíduo não é concebido como algo que se opõe à sociedade, mas como uma das suas fontes de existência.
“A subjectividade é na perspectiva sociológica, socialmente construída”.
Ao produzirem representações sobre a realidade, tendo como base as categorias e modelos de referência e valores que foram interiorizando por esses actos que foram socialmente construídos.
As pessoas que devem ser concebidas como indivíduos, formam uma construção social. A pessoa é entendida e classificada como uma entidade que pertence a determinados grupos.

Estudar:
Anterioridade do social Émile Durkheim; Augusto Santos Silva: Fundamentos.

As interrogações Sociológicas:


a) Perspectivas naturalistas
b) Perspectivas individualistas
c) Perspectivas etnocentricas

O Naturalismo pode ser apresentado em dois tipos de variantes, aquele que sugere que factores naturais e biológicos são as causas dos factos sociais e culturais e aquele que atribui qualidades que seriam inerentes a determinados grupos humanos.
“O povo português é naturalmente triste e melancólico”
“Os africanos têm uma apetência natural para a dança”
O Naturalismo avança com respostas para as quais não há, nem é avançada, uma justificação.
É entendido como intrínseco e imanente de um determinado grupo ou género humano.
Para os naturalistas, os comportamentos são explicáveis por causas naturais. Ainda que algumas destas possam ser tidas em conta mais tarde, quando utilizadas como ponto de partida devem ser rejeitadas como erro.
Fenótipo – As raças deixaram de ser (e não podem ser) classificadas pela biologia, mas mantém-se como uma classificação da sociologia, antropologia, porque elas estão na base de muitos fenómenos sociais sendo fundamentais para a sua compreensão.

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As perspectivas individualistas partem do conceito que a sociedade não é mais que um agregado de indivíduos singulares isolados, que interagem entre si como se não existisse uma realidade social preexistente.
Para o Individualismo, a sociedade não seria mais do que um conjunto de indivíduos agindo e interagindo num conjunto de situações que lhes seriam imanentes e que se pressupões resultar do seu livre arbítrio, como se não existisse um conjunto de instituições com normas para o desenvolvimento das suas condutas (quadros normativos), como se não existissem as estruturas sociais como as classes, onde ocupam posições diferenciadas.

Estudar:
Émile Durkheim; Perspectivas estruturalistas; Estrutural construtivismo; Teoria da estruturação de Antony Giddens.
Também a teoria do construtivismo segundo Peter Berger e T. Luckman é um bom ponto de partida para entender o construtivismo.

Raça

Até que ponto o termo/conceito “Raça” pode ser utilizado para explicar a diversidade humana?
A UNESCO lançou o desafio aos cientistas para esclarecerem o significado exacto de Raça.
Os biólogos concluíram que a espécie humana tinha uma única origem, embora fosse possível identificar grupos raciais com base em alguns indicadores, esta diferenças não tinham ligação com diferenças de comportamento e diferenças culturais ou psicológicas.
Conclusão: do ponto de vista biológico, o conceito de raça é irrelevante.
Para os cientistas sociais, a questão racial foi assimilada na categoria das diferenças étnicas. Assim, consideram que as diferenças raciais existem, na medida em que essas diferenças são atribuídas pelos actores sociais para definirem grupos humanos.
O termo é também utilizado para referir relações raciais marcadas pelo racismo. Raça é assim uma produção social ao nível das representações sociais.
Do ponto de vista sociológico, utiliza-se o conceito de “etnia” (próximo de identidade étnica) quando os indivíduos se classificam uns aos outros.

Etnia

– Identidade étnica. Tem subjacentes relações baseadas em situações benignas, isentas de conflito.
– Identidade racial. Tem subjacentes relações baseadas em conflitos graves, discriminação e opressão.
Identidade étnica (etnia): “aquilo que distingue a identidade étnica de outras formas identitárias é o facto dos indivíduos que constituem essa identidade entenderem que têm uma origem comum que funciona como um campo de acção para a vida em comunidade” (Floya Anthias).
Formas de diferenciação (três definições da construção da identidade étnica):
1) Características fenotípicas (singularidades físicas).
2) Nacionalidade (extraterritorialidade).
3) Etnicidade
“Etnicidade refere-se a particularidades culturais como modo de vida ou de identidade que são baseadas numa noção histórica de origem ou destino comum, quer estes sejam míticos ou reais (cerimoniais, eventos, datas comemorativas, etc.)” – Floya Anthias.
Outras definições de etnicidade:
“É uma categoria fundamental da organização social que é baseada na pertença definida por um sentimento de origens históricas comuns que se constitui com base na religião, linguagem ou outros traços culturais” (John Stone).
A classificação de populações como raças, grupos étnicos ou classes é uma questão subjectiva e que dadas as informações e os sistemas de crença que os grupos tinham acerca uns dos outros, poderia haver muitas combinações de recepção ou de percepção erradas.
Há dois grandes tipos de teorias que se desenvolvem por oposição uma à outra:

1) A perspectiva primordial
2) A perspectiva situacional
Primordial:
Designam-se por primordiais porque as bases de diferenciação étnica (fenótipo, cultura, etc.) acabam por determinar a construção da identidade. “Está-se ligado a parentes, vizinhos e correligionários não só pelo resultado do interesse comum, mas também pelo laço em si. Considera-se que esta semelhança de sangue, fala, costumes, etc. possui um poder de coacção indescritível e por vezes esmagador” (Geertz).
Segundo esta perspectiva os laços étnicos não podem ficar demasiados envolvidos ou dependentes de factores de classe ou de outros factores políticos. Simplesmente atravessam para alem deles. Assim a etnia tem a sua dinâmica própria, independentemente de outros elementos do processo político.
Contra esta teoria, os antropólogos desenvolveram uma outra de etnia situacional.
Situacional:
A mobilização de identidades acontece em momentos concretos, e é permanentemente alterada. Por exemplo, os portugueses nos Estados Unidos estabelecem uma relação com a identidade nacional portuguesa e, simultaneamente, definem-se assimilados à comunidade americana. Esta identidade é instrumentalizada segundo as circunstâncias. Os actores sociais vão reconstruindo e reinventando a sua tradição (e com isso a sua etnicidade) de acordo com as circunstâncias. Ou seja, a invenção da tradição. Outro bom exemplo da perspectiva situacional é o da população originária de Macau. O grupo vai redefinindo a sua etnicidade em função do contexto político em que se encontra.
Nesta perspectiva a etnia funciona como um resumo, pode ser usada para apelar a uma organização social para atingir certos fins, quando é necessário, mas também pode ficar simplesmente latente e ignorada.
A principal diferença entre os dois tipos de teoria, está provavelmente no facto dos teóricos da etnia situacional minimizarem a possibilidade de uma mobilização total do recurso à etnia no interesse de uma classe, e de não terem desenvolvido a outra face da sua teoria que considera a etnia um estigma ou um compromisso.
Estas diferenças de opinião devem-se ao facto da teoria situacional ter sido desenvolvida por antropólogos pouco preocupados com os resultados políticos da luta de classes e do racismo. João Pina Cabral defende por seu lado que as duas teorias são, de facto complementares e não opostas.
A faceta curiosa destas teorias é que não procuram explicar a existência de grupos, mas aceitam-nos como facto consumado. Se todavia tivermos uma teoria estrutural que explique a existência dessa macro estrutura, é possível entendermos que a teoria da escolha racional pode explicar o comportamento de indivíduos ou agregados de indivíduos.
As teorias sociológicas separam-se em dois tipos: aquelas que se concentravam no conhecimento e na percepção imediata dos outros e as que encaravam as interacções entre quase grupos estruturados a um nível de maior dimensão.

Todavia para a constituição do grupo, a etnia não basta. Há também a nacionalidade e a classe.

A nacionalidade tem um âmbito maior que a etnia e implica que os outros membros do quase-grupo são importantes (falamos de quase-grupos porque as entidades sociais não têm ainda as características de associações ou comunidades), tanto politica quanto moralmente.
Quanto à classe, o ponto crucial é que os outros indivíduos são vistos não apenas como parecendo-se ou comportando-se de maneira semelhante, mas também como tendo interesses comuns.
Para as várias teorias foram avançada metáforas para definir as fronteiras étnicas como: Balão ou saco de chá.
Balão, como um invólucro sujeito a dois tipos de pressão: por fora e por dentro. O sue tamanho varia conforme a distribuição da pressão. Pode ser maior ou menor, conforme a pressão é maior no interior ou no exterior.
O saco de chá ilustra a ideia de que os membros do grupo, tal como as folhas de chá, poderem encontrar o seu caminho através do saco para o bule. O ponto importante é que aqui, apesar das fugas, o saco de chá, como as fronteiras étnicas continuam a existir.
Porém é em situações de conflitos de interesses que a etnia deixa de estar “fria na barriga” e passa a ficar quente e activa. A principal excepção a isto segundo Wallman é o caso em que a etnia é usada como meio para conseguir identidade. A etnia e a classe surgem como bases potenciais para a acção colectiva. Como estas potencialidades são convertidas em realidade é outra questão. Podemos admitir que a percepção da diferença em si é uma causa da acção com ou contra a categoria de pessoas consideradas diferentes.

Pierre Bourdieu: A dominação masculina

Entender a masculinidade é, antes de tudo entender como dada sociedade construiu este conceito e a partir de que elementos colocou o macho neste ou naquele patamar.
Uma certa determinação acompanha as teses sobre o género. A assimetria entre macho e fêmea guia este modelo. Sucintamente, a assimetria nas relações entre homens e mulheres estabelece-se porque ao grupo masculino é atribuído um poder e todo um rol de qualidades que o colocam acima da sociedade e o identificam ao ideal de pessoa. Desde o inicio da humanidade que há a crença de que o corpo da mulher é uma imperfeição do corpo masculino. O órgão sexual invaginou, como marca desta incompletude. Os Iluministas por sua vez associaram a razão ao homem, e moldaram uma sociedade em que nada se diferenciava do modelo então negado, o da igreja.
Para Boudieu, a dominação masculina não necessita de justificação, estando a visão dominante expressa em provérbios discursos e poemas. É através dos corpos socializados e das práticas rituais que o passado se perpetua no longo tempo da mitologia colectiva. Para este autor a dominação masculina comporta uma dimensão simbólica, onde o dominador (o homem) consegue obter do dominado (a mulher) uma forma de adesão que não se baseia numa decisão consciente, mas sim numa subordinação imediata e pré-reflexiva dos corpos socializados (a negação consciente da subordinação implicava a recusa da posição do dominado e logo, a revolta). O que acontece, de facto é que o campo da masculinidade é constantemente retroalimentado por toda a sociedade, uma vez que, até as mulheres que criam os filhos sozinhas reproduzem nestes o ideal de dominação do macho.
A dominação masculina passa pela criação de um conjunto de ideias sobre o homem e sobre a mulher no qual o primeiro estabelece sempre as regras. Se há dominação é porque, antes de tudo, há estruturas de poder que fundam e refundam constantemente esta dominação.
Daí que a homossexualidade tenha sido considerada até aos anos 90 como uma doença ou um desvio.
Bourdieu aplica o conceito de habitus no processo de subordinação do género feminino. Trata-se de uma interacção dialéctica entre os grupos socioculturais dominantes que é mantida e revista a partir de negociações e aceitação dos grupos subalternos.
Segundo Bourdieu, a dominação masculina exercida sobre as mulheres é apoiada na violência simbólica estabelecida a partir da divisão entre quem domina e quem é dominado. Isto não ocorre a partir de mecanismos conscientemente elaborados pelos homens para exercer o poder sobre as mulheres, mas a um gradual processo de “socialização do biológico e “biologização” do social”. Este é organizado a partir de categorias androcentricas, sendo expresso através de modos de falar, pensar, e de se comportar, provocando efeitos nos corpos e mentes dos indivíduos.
Bourdieu propõe ainda uma reflexão sobre o modo como o mundo é concebido e entendido, no qual a inferioridade feminina é considerada como algo “natural”. Este processo está na organização natural das coisas, fazendo parte dos esquemas de percepção dos indivíduos, do seu pensamento e da sua acção.
Esta oposição entre “ser” e “conhecer” é mediada pelo habitus, pois na medida em que os dominados compreendem o mundo a partir da relação de dominação já estabelecida socialmente, as suas formas de conhecimento serão pautadas por actos de submissão.
Os órgãos de comunicação social naturalizam este visão androcentrica do mundo construída e partilhada socialmente pelos grupos sociais. Por exemplo na publicidade, as representações das figuras femininas veiculadas, são aceites devido á sua relação com esquemas de percepção dominantes e tornadas naturais para o publico.
O que denominamos “feminilidade” é o produto de um adestramento permanente do corpo e das incessantes chamadas à ordem, entre os quais o mais importante, por ser inerte e reificado é o vestuário. As formas de vestir femininas, por mais caricaturiais e complicadas, tinham por objectivo impedir ou tornar difíceis os movimentos, adestrando assim o corpo feminino para fisicamente se diferenciar do corpo masculino.
Face a esta “violência suave, insensível invisível às suas próprias vitimas, que se exerce por vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento”, Bourdieu incita as feministas a uma luta aberta contra o estado, a escola, e os meios de comunicação social, para que possam finalmente assumir um papel original e bem definido contra todas as formas de dominação e principalmente esta “violência simbólica da dominação masculina”.

Auto-Classificação ou auto-conceito

A súmula das classificações que alguém produz de si próprio.
Um actor social é um self-social ou possui um self-social, quando se torna num objecto que ele próprio pode classificar.
Os actores sociais classificam-se a si próprios com base nas categorias produzidas pelos outros.
É também com base nestas categorias que nos avaliamos, produzindo uma imagem positiva ou negativa de nós próprios.
Os actores sociais quando querem ser avaliados pelos outros, fazem-no tomando por base identidades colectivas, ou atributos que podem avaliá-los positivamente.
Quando alguém possui uma identidade estigmatizada, são-lhe atribuídas identidades virtuais que o indivíduo tem que se esforçar para contestar, para demonstrar que tem outras características que não lhe são atribuídas à partida.
As classificações que os outros produzem, são diferentes de contexto para contexto, e as expectativas também.
Self-social: quando se avalia a si próprio enquanto objecto e em função do contexto em que se encontra.
Em cada contexto específico há um conjunto de atributos relevantes para esse contexto, que são avaliados pelos indivíduos e que utilizam para se avaliar a si próprios.
A identidade pessoal é uma identidade contextual
Na sociedade actual, as identidades são fragmentadas.
Cada individuo tem um papel definido e aceite por todos.
Nós só percebemos a vida em sociedade se entendermos os processos de construção da realidade.A sociedade está em permanente construção
Reificação: aceitação de um processo de institucionalização

Reificado: realizado; substantivado.
Instituição total (Goffman) instituições que dominam totalmente os indivíduos.
Há graus diversos de instituições: grupos informais, casamento, etc. suportam-se naquilo que é espectável de cada actor social.
Cultura institucional
A legitimação:
Muitas vezes as lógicas institucionalizadas são confrontadas com momentos de ruptura.
As normas das instituições só ganham importância quando são legitimadas.

A legitimação advém quando os actores sociais avaliam as acções desenvolvidas pelas instituições em causa.
Quando a legitimação é sólida, as instituições surgem como uma âncora para os indivíduos.
A ancoragem permite uma garantia de segurança para os indivíduos.

Conceitos de identidade social: Nós somos diferentes dos outros.

A identidade é construída por oposição aos outros. Tem por base a diferença:
”Nós contra eles”.
Por isso é construída na base da diferenciação ou mesmo na exclusão.
Não existem identidades que não sejam representadas pelos próprios.
Concepção da identidade como uma essência e não como um resultado de uma construção social. Tem uma forte componente social.
Parte de uma fronteira física ou simbólica.
A essência tem natureza telúrica (isto é: brota da terra) ou tem explicação biológica (como no caso do arianismo), ou outros atributos hereditários (como a identidade cigana). Quando há um processo de socialização tão vincado que desde pequenas as crianças se comportam como qualquer adulto do grupo.
Na perspectiva construtivista as identidades são construções sociais
De salientar que embora não interesse para este perspectiva a explicação biológica, não pode ser, no entanto ignorado que os seus actores pensem assim.

Para os construtivistas, as identidades estão sempre a ser construídas e reconstruídas.
Identidades são socialmente construídas e reconstruídas permanentemente.

Marcadores simbólicos:

A diferenciação identitária é manifestada através de marcadores simbólicos
IndumentáriaBandeiras e símbolos
Características corporais naturais ou produzidas
Datas histórias, locais e cerimoniais
Fronteiras físicas
ReligiãoObjectosEstes marcadores simbólicos representam fronteiras simbólicas
Ao sociólogo compete confirmar a existência de diferentes identidades e não estabelecer uma identidade.

Estas identidades, embora sejam criadas pelos indivíduos, transcendem os indivíduos. Têm uma identidade colectiva.

Identidades colectivas:
São identidades reconhecidas colectivamente pelos actores sociais.

É uma forma de classificação de grupos e de indivíduos que são colectivamente construídas através de processos de identificação, diferenciação e representação através de marcadores simbólicos. Estas formas de classificação são difundidas através de um processo de socialização e aprendizagem que permite:

1 – Os actores sociais conhecem o espaço que ocupam no mundo social

2 – Que se auto-classifiquem e classifiquem entre si.

3 – Que desenvolvam sentimentos de pertença e de diferenciação em relação a outros significados.

4 – Que interiorizem um conjunto especifico de normas e expectativas comportamentais.
Os significados que são conferidos às identidades são diferentes, quer se esteja no interior ou no exterior.
A diversidade dos segmentos internos é variável consoante a importância que os elementos do grupo lhe conferem
Diferenciação segundo conceitos históricos e segundo contextos de integração concretos.--Hetro-classificação (classificações produzidas no exterior)

a) Identidades sociais colectivas
b) Papeis sociais (relacionado com os actores)
Ele é: Português, homem, comunista, habitante da Curraleira, estudante
c) Atributos (que são reconhecidos globalmente como existentes e que resultam de uma avaliação)Ele é: inteligente, civilizado, honesto.
Os atributos com base nos quais se classificam indivíduos concretos, são eles próprios resultado dos atributos atribuídos às identidades colectivas nos quais os indivíduos se inserem.Ex.: Suecos são organizados; Italianos são desorganizados

Processos Sociocognitivos interligados:

Ao analisar a formação das representações sociais, Moscovici explicita dois processos maiores: – A Objectivação
A Ancoragem
Embora estes dois processos estejam intrinsecamente ligados e não sejam sequenciais, vamos expô-los de forma autónoma.

a) A Objectivação
A objectivação diz respeito à forma como se organizam os elementos constituintes da representação e ao percurso através do qual tais elementos formam expressões de uma realidade vista como natural.

Este percurso envolve três momentos.

1. Selecção: As informações, crenças e ideias acerca do objecto de representação sofrem um processo de selecção e descontextualização. O que está em causa é a formação de um todo, relativamente coerente. Porém, este processo não é neutro ou aleatório mas têm subjacentes normas e valores. Nesse sentido pode dizer-se que exprimem e servem interesses e valores grupais.
2. Organização: A segunda etapa da objectivação corresponde à organização dos elementos, à sua esquematização estruturante, de forma a constituírem um padrão de relações estruturadas e coerentes.
3. Naturalização: Os conceitos retidos no esquema figurativo e as respectivas relações constituíram-se como categorias naturais e adquiriram materialidade. Não só o abstracto se torna concreto como o que era percepção se torna realidade.

b) A Ancoragem
Se por um lado a ancoragem se situa na sequência da objectivação, por outro também a precede. Qualquer tratamento da informação exige pontos de referência e é por referencia a experiências e esquemas de pensamento já estabelecidos que o objecto em questão vai ser pensado.
De facto, as representações sociais oferecem uma rede de significados que permitem a ancoragem da acção e a atribuição de sentido a acontecimentos, comportamentos, pessoas, grupos ou factos sociais.
Uma representação social é um código de interpretação no qual ancora o não familiar, o desconhecido, o imprevisto.
A nova representação social acomoda-se no interior de um conjunto de representações que já se encontra produzido.
Características gerais das representações sociais

1 – Constroem e formatam a realidade (seleccionam o que é relevante e atribuem significado a esses elementos relevantes).
2 – Estão na base dos processos de socialização (este processos são dirigidos pelas representações sociais e portanto exteriores ao sujeito).
3 – Tornam possível a comunicação e interacção social.
4 – Definem convenções (são orientadoras da conduta dos indivíduos). São dominantes. Algumas são representações hegemónicas. Não deixam espaço para alternativas.
5 – São dinâmicas. Vão-se modificando ao longo do tempo.
6 – Convertem em familiar aquilo que não o era.
Por exemplo: na definição para consumidor de drogas, podemos traçar uma linha em que num extremo figura “Criminoso” (o pior) e no outro extremo “Doente” (o melhor). Entre estes dois pólos podemos imaginar diversas formas de como o consumidor de drogas é representado socialmente.
--Os factores sociais

Os processos de objectivação e ancoragem são processos cognitivos regulados por factores sociais. Porém, a existência de uma estrutura social remete para clivagens, diferenciações, relações de dominação. É então possível pensar que tais clivagens e diferenciações se irão reflectir em diferentes representações sociais do mesmo objecto.

Moscovici enunciou três condições que afectam a emergência de uma representação social:
A dispersão de informação – A informação não circula da mesma forma entre todos os indivíduos como não circula o mesmo tipo de informação em todos os grupos sociais.

A focalização – os recursos educativos, como os interesses profissionais ou ideológicos parametrizam a focalização dos indivíduos em diferentes domínios e geram uma representação mais sólida ou mais fluida acerca de um dado objecto.

A pressão à inferência – entre a constatação de um fenómeno e a necessidade de tomada de uma posição vai um lapso de tempo mínimo. A posição a tomar não é, contudo, uma qualquer. Ela deve servir os objectivos individuais ou grupais. Tal facto exige que os indivíduos e os grupos disponham de recursos que lhes permitam produzir uma opinião não só rápida mas também conforme às suas estratégias.