22.2.07

As três revoluções

As três revoluções ocorridas no século XVIII tiveram um grande impacto na visão do mundo. As desigualdades sociais começam a ser vistas como o resultado da diferente distribuição dos bens sociais e não como o produto de uma organização divina.

As desigualdades sociais passam a fazer parte da agenda politica e a serem discutidas pela ordem pública. Inicialmente esta discussão pertence apenas às elites políticas, ligadas aos grupos dominantes com poder económico, mas ao longo do tempo ela democratiza-se devido ao papel da escola.

Efeitos políticos da revolução francesa:
Constituiu a figura do cidadão.
Instituiu o poder da lei e o poder dos direitos do cidadão face à lei.
Constituiu a política representativa, onde existem corpos políticos nos quais se delega representação.
Instituiu a soberania geral, sendo soberano aquele que é eleito.
Acentua o individualismo, associando-o a uma comunidade universal.
Secularizou as relações familiares, permitindo o divórcio e impondo a igual distribuição familiar por todos os filhos.
Reduziu o papel da família, arrancando os filhos de uma educação familiar, para uma educação escolar, com os professores a representar os interesses do estado e não dos pais.
Estas alterações da propriedade privada, da família e da escola permitiram uma maior mobilidade de ideias, fomentada por uma maior mobilidade física.

Definição de Classe

Significa distribuição de características diferenciadas e individuais, em grupos.
Na classificação por classes existe desigualdade. Os bens sociais, que o estado do século XVIII começa a reconhecer como bens universais, estão desigualmente distribuídos. A classificação por classes diferencia os indivíduos entre aqueles que conseguem utilizar determinados bens e os outros que não o podem fazer.
Com a definição de “classe social” a explicação da desigualdade passa a ser de origem social e humana e não divina.

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A dessacralização dos fenómenos sociais

Antes do século XVIII os fenómenos sociais eram explicados através do divino. Era pela vontade de Deus que as desigualdades sociais se justificavam e esta concepção de ordem social manteve-se até que três importantes acontecimentos ocorreram, marcando uma mudança de mentalidades.

Revolução francesa: Esta revolução, com a sua forte componente politica, inova na medida em que os seus ideais colocam todos os cidadãos perante a lei em iguais circunstâncias, resolvendo assim os problemas das desigualdades políticas.

Revolução Americana: Esta revolução cria condições para que os Estados Unidos da América sejam o primeiro país a experimentar o sistema democrático.

Revolução Industrial: Contribui para profundas transformações económicas.

Estes três acontecimentos contribuíram para a dessacralização social. Foi, no entanto um processo lento, dando origem a novas percepções que contribuíram para uma alteração da forma como os indivíduos olham a sociedade a nível social. Até então, apenas as elites tinham a percepção de que os bens materiais e simbólicos não eram distribuídos por todos da mesma forma.

É a partir destes três acontecimentos que as desigualdades sociais se transformam num problema político. Surgem preocupações ao nível da classificação social, com o estado a procurar criar uma contabilidade pública e sistemas de impostos. Surge uma racionalidade burocrática, criando fronteiras administrativas e através desses dispositivos controlando a regulação social.

Essa racionalidade burocrática torna politicamente visível e com carácter universal que todos os seres humanos pertencem a uma única comunidade que se distingue de outras (animais, põe exemplo). Contratualizam-se e criam-se convenções sociais (contratos como o casamento ou laboral). Esses contratos, tanto se fazem como se desfazem, o que marca uma diferença em relação ao passado, dado que as pessoas estavam presas a esses laços pessoais. Por último, surge uma política de singularidade, através de um processo de individuação – o indivíduo é “arrancado” à comunidade.

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A importância da propriedade

A racionalidade (época das luzes) tem consequências económicas. A razão passa a ser inerente ao próprio crescimento do indivíduo. A revolução industrial deu um rude golpe nas sociedades organizadas em Ordens. Houve uma profunda reestruturação nas relações entre os indivíduos tornando-as em relações de Classes.

Isto significa que, do ponto de vista político, há uma transformação no conceito de propriedade. Isto é: o estado torna legítimo, do ponto de vista jurídico, a existência da propriedade privada, simultaneamente a propriedade torna-se impessoal, deixando de ser da família, igreja ou comunidade, de forma abstracta (da família X; dos duques de Y), passado a ser transaccionável. Com a igualdade de direitos para todos os herdeiros a propriedade vai atomizando-se.

Vão aparecer dois grandes grupos, por um lado os que têm propriedade e, por outro, os que não têm. Estes grupos são diferentes entre eles, mas também internamente. Na linguagem marxista representam a burguesia e o proletariado.

A revolução industrial levou mais pessoas para as cidades e, dentro destas, para um espaço mais circunscrito em torno da fábrica. A industrialização tem consequências quer ao nível do espaço quer ao nível do tempo. Por um lado surgem os bairros operários, por outro o ritmo de trabalho é ditado pela fábrica. A sirene da fábrica passa a marcar o início e final da jornada de trabalho.Com a integração da mulher na população activa, as famílias são obrigadas a gerir de forma diferente o seu espaço doméstico.

As transformações tecnológicas (máquina), associadas a estas novas relações de trabalho, introduz o conceito de produtividade. Com a máquina os operários produzem mais, com menos esforço.

Todavia existe o reverso da medalha. Com as novas tecnologias surge um processo de alienação. A máquina desumaniza o homem. A rotina do trabalho também. Por outro lado, a propriedade, sendo impessoal e transaccionável tende a tornar-se monopolizável e susceptível de ser cartelizada.

Aumenta a autonomia dos indivíduos (Individuação)
Os quadros normativos tornam-se mais abstractos (Abstracção)
A modernidade promove a mobilidade, quer ao nível de trocas comerciais, quer de pessoas e ideias. Os laços entre os indivíduos generalizam-se (Generalização)

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