12.2.07

Introdução à investigação em Ciências Sociais

A investigação científica é uma exploração sistemática dos fenómenos reais, com vista à sua explicação e compreensão objectivas. O carácter objectivo é-lhe dado pela aplicação da dúvida metódica, estando toda a preposição científica sujeita à demonstração lógica e à prova factual dessa preposição.

O conhecimento científico é essencialmente teórico. Mas o conhecimento teórico tem de se submeter ao teste experimental, por isso a linguagem conceptual da teoria com que formulamos os problemas e as hipóteses, tem de ser traduzida em operações de observação sistemática, cujos resultados correspondam, no plano empírico aos significados que os conceitos têm no plano teórico.

Essa tradução de conceitos teóricos em operações precisas de observação e mensuração designa-se por Operacionalização.


Até que ponto podem generalizar-se aos serem humanos, as características das ciências que lidam com objectos físico-químicos ou biológicos?

Para esta pergunta há dois tipos de resposta:
1. Unitarismo metodológico: O método científico é idêntico em qualquer ciência, baseado na materialização de factos (exteriores ao observador) visando a explicação dos fenómenos, usando o raciocínio experimental como instrumento de prova.
2. Dualismo metodológico: Os fenómenos sociais e humanos dependem de determinações internas aos actores (e ao investigador) que agem de acordo com o sentido que atribuem às suas acções e aos objectos do seu contexto. Neste sentido, as ciências sociais e humanas visam a compreensão dos fenómenos reconstituídos pelo investigador.

Exemplo da posição unitarista nos fundamentos da sociologia: Émile Durkheim. Conceito chave: facto social. Tratar os factos sociais como coisas externas ao investigador e às consciências individuais; exterioridade e coercividade dos factos sociais; Lógica experimental da prova através do método comparativo. Exemplificação a partir de O Suicídio.

Exemplo de posição dualista: Max Weber. Conceitos-chave: Acção social e relação social. Acção comportamento com um sentido para o actor.
Acção social: acção cujo sentido para o actor é referido a outros actores (reais ou virtuais; presentes ou ausentes na situação) e às suas acções (reais ou virtuais, passadas, presentes ou futuras). Sentido reciprocamente referido das acções de vários actores. Relação social: acção social plural cujo sentido reciprocamente referido produz uma probabilidade de determinados cursos de acção; expectativas recíprocas de conduta. Exemplificado a partir de A ética protestante e o espírito do capitalismo.


A construção do conhecimento científico processa-se nos dois sentidos: Entre o discurso teórico, em que se formulam teorias, problemas de investigação e hipóteses e em que se exprimem a explicação e compreensão cientifica dos fenómenos; e o discurso empírico, em que se formulam preposições factuais e generalizações empíricas.

As preposições teóricas orientam a construção e a interpretação das preposições factuais; as preposições sugerem e permitem testar as preposições teóricas.

Tipos de conceitos segundo funções nas preposições:
a) Substantivos (objectos)
b) Predicativos (atributos)
c) Relacionais (relações entre objectos ou entre atributos)

Análise dimensional dos conceitos: dimensões e componentes, correlatos empíricos (descritores e indicadores). A analise dimensional como decomposição do sentido de um conceito complexo em componentes de sentido mais simples. Função de aproximação ao observável; definição de descritores e de indicadores relevantes para cada dimensão.

O procedimento de operacionalização por analise dimensional: Exemplificação com o conceito de integração social segundo Landecker. Definição do conceito de integração social.

As quatro dimensões propostas por Landecker:
Cultural
Normativa
Funcional
Comunicacional

O procedimento de operacionalização por analise dimensional: distinção entre conceitos substantivos (que designam objectos) e conceitos predicativos (que designam atributos ou variáveis dos objectos).
Exemplificação com o conceito de papel social:

Definição elementar do conceito (substantivo) do papel social.
Dimensões:
a) Expectativas
b) Regularidades comportamentais
c) Sanções
Exemplos de descritores aplicáveis

Definição elementar do conceito (predicativo) da flexibilidade de um papel social.
Dimensões:
a) Grau de consenso das expectativas
b) Grau de conformidade das regularidades comportamentais às expectativas
c) Grau de importância das sanções aplicadas (positivas e negativas)
Exemplo de indicadores aplicáveis.

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A construção da Investigação
Fases típicas da construção de uma investigação:
a) Definição de um tema, primeira problematização e investigação exploratória inicial.
b) Equacionamento teórico do problema e investigação exploratória aprofundada.
c) Construção de hipóteses e modelos de análise e investigação teste.

O plano de investigação para testar uma hipótese bivariada deve conter os seguintes passos:
1. Definir claramente as variáveis (independente e dependente) e a relação entre elas, incluindo quando possível o sentido positivo ou negativo da relação; o que só é possível quando ambas as variáveis podem ser expressas numa escala. Atenção à passagem do enunciado verbal da hipótese à denominação das variáveis. Estas podem estar directamente nomeadas no enunciado ou podem ser inferidas a partir da designação dos seus valores (na preposição “as raparigas estudam mais do que os rapazes” a variável independente é sexo, expressa pelos valores “rapariga” – feminino e “rapaz” – masculino).
2. Definir claramente as unidades de análise a que se aplica a hipótese. As unidades de análise são os objectos em que podemos observar ambas as variáveis definidas pela hipótese de modo a relacioná-las (na preposição dada as unidades de análise são os “alunos”).
3. Operacionalizar ambas as variáveis, isto é, analisar o conceito que exprime cada uma delas para definir dimensões (se necessário) e indicadores observáveis. Este deve ser feito separadamente para ambas as variáveis, evitando a repetição de indicadores entre as duas. Os diversos indicadores de cada variável devem ser sumariados numa medida única que será o valor empírico da variável correspondente.
4. Definir o universo em que a hipótese será testada e o procedimento de amostragem a usar para obter uma amostra representativa desse universo. O universo é determinado à partida pela definição das unidades de análise e pela delimitação espacial e temporal do estudo. Mas pode ser ampliado ou restringido espacial ou temporalmente para efeito do teste da hipótese. O procedimento de amostragem deve ser definido tendo em conta as características do universo, identificando as possíveis bases de sondagem a usar.
5. Definir técnicas de observação adequadas para observar todos os indicadores de ambas as variáveis em cada uma das unidades de observação retidas na amostra.
6. Definir o modo previsto de cruzamento das variáveis

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