Até que ponto o termo/conceito “Raça” pode ser utilizado para explicar a diversidade humana?
A UNESCO lançou o desafio aos cientistas para esclarecerem o significado exacto de Raça.
Os biólogos concluíram que a espécie humana tinha uma única origem, embora fosse possível identificar grupos raciais com base em alguns indicadores, esta diferenças não tinham ligação com diferenças de comportamento e diferenças culturais ou psicológicas.
Conclusão: do ponto de vista biológico, o conceito de raça é irrelevante.
Para os cientistas sociais, a questão racial foi assimilada na categoria das diferenças étnicas. Assim, consideram que as diferenças raciais existem, na medida em que essas diferenças são atribuídas pelos actores sociais para definirem grupos humanos.
O termo é também utilizado para referir relações raciais marcadas pelo racismo. Raça é assim uma produção social ao nível das representações sociais.
Do ponto de vista sociológico, utiliza-se o conceito de “etnia” (próximo de identidade étnica) quando os indivíduos se classificam uns aos outros.
Etnia
– Identidade étnica. Tem subjacentes relações baseadas em situações benignas, isentas de conflito.
– Identidade racial. Tem subjacentes relações baseadas em conflitos graves, discriminação e opressão.
Identidade étnica (etnia): “aquilo que distingue a identidade étnica de outras formas identitárias é o facto dos indivíduos que constituem essa identidade entenderem que têm uma origem comum que funciona como um campo de acção para a vida em comunidade” (Floya Anthias).
Formas de diferenciação (três definições da construção da identidade étnica):
1) Características fenotípicas (singularidades físicas).
2) Nacionalidade (extraterritorialidade).
3) Etnicidade
“Etnicidade refere-se a particularidades culturais como modo de vida ou de identidade que são baseadas numa noção histórica de origem ou destino comum, quer estes sejam míticos ou reais (cerimoniais, eventos, datas comemorativas, etc.)” – Floya Anthias.
Outras definições de etnicidade:
“É uma categoria fundamental da organização social que é baseada na pertença definida por um sentimento de origens históricas comuns que se constitui com base na religião, linguagem ou outros traços culturais” (John Stone).
A classificação de populações como raças, grupos étnicos ou classes é uma questão subjectiva e que dadas as informações e os sistemas de crença que os grupos tinham acerca uns dos outros, poderia haver muitas combinações de recepção ou de percepção erradas.
Há dois grandes tipos de teorias que se desenvolvem por oposição uma à outra:
1) A perspectiva primordial
2) A perspectiva situacional
Primordial:
Designam-se por primordiais porque as bases de diferenciação étnica (fenótipo, cultura, etc.) acabam por determinar a construção da identidade. “Está-se ligado a parentes, vizinhos e correligionários não só pelo resultado do interesse comum, mas também pelo laço em si. Considera-se que esta semelhança de sangue, fala, costumes, etc. possui um poder de coacção indescritível e por vezes esmagador” (Geertz).
Segundo esta perspectiva os laços étnicos não podem ficar demasiados envolvidos ou dependentes de factores de classe ou de outros factores políticos. Simplesmente atravessam para alem deles. Assim a etnia tem a sua dinâmica própria, independentemente de outros elementos do processo político.
Contra esta teoria, os antropólogos desenvolveram uma outra de etnia situacional.
Situacional:
A mobilização de identidades acontece em momentos concretos, e é permanentemente alterada. Por exemplo, os portugueses nos Estados Unidos estabelecem uma relação com a identidade nacional portuguesa e, simultaneamente, definem-se assimilados à comunidade americana. Esta identidade é instrumentalizada segundo as circunstâncias. Os actores sociais vão reconstruindo e reinventando a sua tradição (e com isso a sua etnicidade) de acordo com as circunstâncias. Ou seja, a invenção da tradição. Outro bom exemplo da perspectiva situacional é o da população originária de Macau. O grupo vai redefinindo a sua etnicidade em função do contexto político em que se encontra.
Nesta perspectiva a etnia funciona como um resumo, pode ser usada para apelar a uma organização social para atingir certos fins, quando é necessário, mas também pode ficar simplesmente latente e ignorada.
A principal diferença entre os dois tipos de teoria, está provavelmente no facto dos teóricos da etnia situacional minimizarem a possibilidade de uma mobilização total do recurso à etnia no interesse de uma classe, e de não terem desenvolvido a outra face da sua teoria que considera a etnia um estigma ou um compromisso.
Estas diferenças de opinião devem-se ao facto da teoria situacional ter sido desenvolvida por antropólogos pouco preocupados com os resultados políticos da luta de classes e do racismo. João Pina Cabral defende por seu lado que as duas teorias são, de facto complementares e não opostas.
A faceta curiosa destas teorias é que não procuram explicar a existência de grupos, mas aceitam-nos como facto consumado. Se todavia tivermos uma teoria estrutural que explique a existência dessa macro estrutura, é possível entendermos que a teoria da escolha racional pode explicar o comportamento de indivíduos ou agregados de indivíduos.
As teorias sociológicas separam-se em dois tipos: aquelas que se concentravam no conhecimento e na percepção imediata dos outros e as que encaravam as interacções entre quase grupos estruturados a um nível de maior dimensão.
Todavia para a constituição do grupo, a etnia não basta. Há também a nacionalidade e a classe.
A nacionalidade tem um âmbito maior que a etnia e implica que os outros membros do quase-grupo são importantes (falamos de quase-grupos porque as entidades sociais não têm ainda as características de associações ou comunidades), tanto politica quanto moralmente.
Quanto à classe, o ponto crucial é que os outros indivíduos são vistos não apenas como parecendo-se ou comportando-se de maneira semelhante, mas também como tendo interesses comuns.
Para as várias teorias foram avançada metáforas para definir as fronteiras étnicas como: Balão ou saco de chá.
Balão, como um invólucro sujeito a dois tipos de pressão: por fora e por dentro. O sue tamanho varia conforme a distribuição da pressão. Pode ser maior ou menor, conforme a pressão é maior no interior ou no exterior.
O saco de chá ilustra a ideia de que os membros do grupo, tal como as folhas de chá, poderem encontrar o seu caminho através do saco para o bule. O ponto importante é que aqui, apesar das fugas, o saco de chá, como as fronteiras étnicas continuam a existir.
Porém é em situações de conflitos de interesses que a etnia deixa de estar “fria na barriga” e passa a ficar quente e activa. A principal excepção a isto segundo Wallman é o caso em que a etnia é usada como meio para conseguir identidade. A etnia e a classe surgem como bases potenciais para a acção colectiva. Como estas potencialidades são convertidas em realidade é outra questão. Podemos admitir que a percepção da diferença em si é uma causa da acção com ou contra a categoria de pessoas consideradas diferentes.
A UNESCO lançou o desafio aos cientistas para esclarecerem o significado exacto de Raça.
Os biólogos concluíram que a espécie humana tinha uma única origem, embora fosse possível identificar grupos raciais com base em alguns indicadores, esta diferenças não tinham ligação com diferenças de comportamento e diferenças culturais ou psicológicas.
Conclusão: do ponto de vista biológico, o conceito de raça é irrelevante.
Para os cientistas sociais, a questão racial foi assimilada na categoria das diferenças étnicas. Assim, consideram que as diferenças raciais existem, na medida em que essas diferenças são atribuídas pelos actores sociais para definirem grupos humanos.
O termo é também utilizado para referir relações raciais marcadas pelo racismo. Raça é assim uma produção social ao nível das representações sociais.
Do ponto de vista sociológico, utiliza-se o conceito de “etnia” (próximo de identidade étnica) quando os indivíduos se classificam uns aos outros.
Etnia
– Identidade étnica. Tem subjacentes relações baseadas em situações benignas, isentas de conflito.
– Identidade racial. Tem subjacentes relações baseadas em conflitos graves, discriminação e opressão.
Identidade étnica (etnia): “aquilo que distingue a identidade étnica de outras formas identitárias é o facto dos indivíduos que constituem essa identidade entenderem que têm uma origem comum que funciona como um campo de acção para a vida em comunidade” (Floya Anthias).
Formas de diferenciação (três definições da construção da identidade étnica):
1) Características fenotípicas (singularidades físicas).
2) Nacionalidade (extraterritorialidade).
3) Etnicidade
“Etnicidade refere-se a particularidades culturais como modo de vida ou de identidade que são baseadas numa noção histórica de origem ou destino comum, quer estes sejam míticos ou reais (cerimoniais, eventos, datas comemorativas, etc.)” – Floya Anthias.
Outras definições de etnicidade:
“É uma categoria fundamental da organização social que é baseada na pertença definida por um sentimento de origens históricas comuns que se constitui com base na religião, linguagem ou outros traços culturais” (John Stone).
A classificação de populações como raças, grupos étnicos ou classes é uma questão subjectiva e que dadas as informações e os sistemas de crença que os grupos tinham acerca uns dos outros, poderia haver muitas combinações de recepção ou de percepção erradas.
Há dois grandes tipos de teorias que se desenvolvem por oposição uma à outra:
1) A perspectiva primordial
2) A perspectiva situacional
Primordial:
Designam-se por primordiais porque as bases de diferenciação étnica (fenótipo, cultura, etc.) acabam por determinar a construção da identidade. “Está-se ligado a parentes, vizinhos e correligionários não só pelo resultado do interesse comum, mas também pelo laço em si. Considera-se que esta semelhança de sangue, fala, costumes, etc. possui um poder de coacção indescritível e por vezes esmagador” (Geertz).
Segundo esta perspectiva os laços étnicos não podem ficar demasiados envolvidos ou dependentes de factores de classe ou de outros factores políticos. Simplesmente atravessam para alem deles. Assim a etnia tem a sua dinâmica própria, independentemente de outros elementos do processo político.
Contra esta teoria, os antropólogos desenvolveram uma outra de etnia situacional.
Situacional:
A mobilização de identidades acontece em momentos concretos, e é permanentemente alterada. Por exemplo, os portugueses nos Estados Unidos estabelecem uma relação com a identidade nacional portuguesa e, simultaneamente, definem-se assimilados à comunidade americana. Esta identidade é instrumentalizada segundo as circunstâncias. Os actores sociais vão reconstruindo e reinventando a sua tradição (e com isso a sua etnicidade) de acordo com as circunstâncias. Ou seja, a invenção da tradição. Outro bom exemplo da perspectiva situacional é o da população originária de Macau. O grupo vai redefinindo a sua etnicidade em função do contexto político em que se encontra.
Nesta perspectiva a etnia funciona como um resumo, pode ser usada para apelar a uma organização social para atingir certos fins, quando é necessário, mas também pode ficar simplesmente latente e ignorada.
A principal diferença entre os dois tipos de teoria, está provavelmente no facto dos teóricos da etnia situacional minimizarem a possibilidade de uma mobilização total do recurso à etnia no interesse de uma classe, e de não terem desenvolvido a outra face da sua teoria que considera a etnia um estigma ou um compromisso.
Estas diferenças de opinião devem-se ao facto da teoria situacional ter sido desenvolvida por antropólogos pouco preocupados com os resultados políticos da luta de classes e do racismo. João Pina Cabral defende por seu lado que as duas teorias são, de facto complementares e não opostas.
A faceta curiosa destas teorias é que não procuram explicar a existência de grupos, mas aceitam-nos como facto consumado. Se todavia tivermos uma teoria estrutural que explique a existência dessa macro estrutura, é possível entendermos que a teoria da escolha racional pode explicar o comportamento de indivíduos ou agregados de indivíduos.
As teorias sociológicas separam-se em dois tipos: aquelas que se concentravam no conhecimento e na percepção imediata dos outros e as que encaravam as interacções entre quase grupos estruturados a um nível de maior dimensão.
Todavia para a constituição do grupo, a etnia não basta. Há também a nacionalidade e a classe.
A nacionalidade tem um âmbito maior que a etnia e implica que os outros membros do quase-grupo são importantes (falamos de quase-grupos porque as entidades sociais não têm ainda as características de associações ou comunidades), tanto politica quanto moralmente.
Quanto à classe, o ponto crucial é que os outros indivíduos são vistos não apenas como parecendo-se ou comportando-se de maneira semelhante, mas também como tendo interesses comuns.
Para as várias teorias foram avançada metáforas para definir as fronteiras étnicas como: Balão ou saco de chá.
Balão, como um invólucro sujeito a dois tipos de pressão: por fora e por dentro. O sue tamanho varia conforme a distribuição da pressão. Pode ser maior ou menor, conforme a pressão é maior no interior ou no exterior.
O saco de chá ilustra a ideia de que os membros do grupo, tal como as folhas de chá, poderem encontrar o seu caminho através do saco para o bule. O ponto importante é que aqui, apesar das fugas, o saco de chá, como as fronteiras étnicas continuam a existir.
Porém é em situações de conflitos de interesses que a etnia deixa de estar “fria na barriga” e passa a ficar quente e activa. A principal excepção a isto segundo Wallman é o caso em que a etnia é usada como meio para conseguir identidade. A etnia e a classe surgem como bases potenciais para a acção colectiva. Como estas potencialidades são convertidas em realidade é outra questão. Podemos admitir que a percepção da diferença em si é uma causa da acção com ou contra a categoria de pessoas consideradas diferentes.
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