22.2.07

Argumentos para uma crítica genérica ao pensamento de Marx


É possível encontrar nas nossas sociedades contemporâneas (capitalistas) combinações com características específicas das sociedades de “ordens”. Este conceito não é, todavia, similar ao das sociedades medievais (ancien regime) todavia, há uma equivalência, o que permite pensar que as sociedades actuais não são puras (com mercado livre e acentuada mobilidade social).

Este debate à volta da impureza da sociedade de “classe” foi introduzido por um conjunto de sociólogos, a partir da 2ª guerra mundial, num modelo de industrialização. A este processo vão chamar-lhe “pós-industrial”.

A questão da propriedade privada dos meios de produção, que está na base da estratificação social das classes, segundo a teoria marxista, pode não ser a única fonte de estruturação social.
Argumentos: Disseminação da propriedade. Apesar da monopolização das empresas, em resultado da competição no mercado, a propriedade não se concentra num pequeno número de pessoas.
Ocorreram transformações nas estruturas internas das empresas, quer a nível de organograma vertical quer nas relações horizontais. Estas transformações vão criar condições diferenciadas, em termos de controlo da própria empresa, quer através de processos de regulação e controlo da autoridade. Estas alterações tornam-se mais notórias com a revolução dos gerentes, correspondente à categoria profissional dos quadros. O critério da distribuição de poder dentro das empresas já não passa pela posse da propriedade.

A par da questão da propriedade, entra um novo recurso que por vezes não anda em paralelo com o conceito de propriedade e que é caracterizador das diferenças sociais: Conhecimento. Ter ou não ter conhecimento, ter ou não ter informação passa a estar relacionado com a evolução tecnológica e com a forma como se distribuem e maximizam as relações humanas dentro de uma empresa.
Este grupo (gestores), nem sempre está associado à economia (e portanto indirectamente ao capital), vindo das mais variadas áreas disciplinares.

O que fundamenta e justifica a entrada e acesso aos quadros?

Inicialmente é a experiência, como conhecimento (antiguidade), e a fidelidade à figura do empresário. A partir dos anos sessenta, em virtude da massificação escolar, o que vai fundamentar o acesso aos quadros é a posse de um diploma universitário. O mérito empresarial vai deslocar-se para o mérito escolar tendo assim, repercussões directas na distribuição salarial.
A posse se informação e conhecimento, pode não estar associada à posse da propriedade privada dos meios de produção, mas acaba por dar o poder e autoridade no controlo e regulação das empresas (já não são os proprietários que detêm o controlo, mas sim os gestores que controlam a programação da sua organização, quer a nível interno quer a nível externo).
No quadro das empresas, quer os gestores, quer os profissionais de topo das empresas ou os profissionais liberais, funcionam como numa sociedade por ordens, ou seja, com regras próprias (como é o caso das regras e exigências de acesso ao corpo profissional).
Assim os mercados de trabalho são fechados, porque nem todos têm acesso a ele, originando um processo de fechamento social, com o propósito de maximizar os benefícios sociais destes grupos mantendo a posição social valorizada.
Isto é importante, mas não é suficiente, pelo que o mercado se alarga, nomeadamente ao nível matrimonial, criando uma afinidade de estilos de vida. É neste sentido que poderemos considerar estes grupos (gestores, médicos, advogados e funcionários de topo) como estando agregado em ordens, cruzando-se esta com a estratificação em classes sociais.

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