O conceito de estrutura social é amplo e dá-nos um primeiro desenho de como as pessoas se distribuem no sistema social.
A estrutura de classes é um caso particular. É um conceito de estrutura social mais amplo e desenha um conjunto de relações entre as classes, em função do lugar que as classes ocupam no sistema de relações económicas. Pretende-se mostrar que as relações entre os grupos sociais são a expressão do sentido de lugar que estes grupos ocupam na estrutura das relações económicas.
Anteriormente, já havia a ideia de que existiam actividades, mais pesadas umas dos que as outras, em que era necessário pessoas adequadas para cada função (por exemplo: os escravos). Havia também uma ideia quanto à distribuição dos bens com base teológica (critérios divinos).
A partir do séc. XVII começam a surgir as primeiras reflexões sobre esta dicotomia entre fortes e fracos.
La Bruyére produziu um livro (“Les Caracteres”) onde discute a existência de diferentes formas psicológicas de estar socialmente. Entre os nobres e o povo, o objecto que fazia a diferença era a reacção perante a morte. Ele dizia que os nobres não tinham medo perante a morte, estando sempre prontos para o duelo (respeito pela sua dignidade), mesmo que isso pusesse em causa a sua vida. Ao contrário, o povo tinha medo perante a morte, porque não deixavam herança nem linhagem.
Estes dois pensamentos distintos eram, na opinião de La Bruyére, influenciados pelo lugar que estes ocupavam na sociedade de ordens (uns em cima e outros em baixo).
Jerónimo de Molina escreveu o livro “Vivir contra la fortuna”. Tinha características semelhantes ao anterior, ou seja, analisava as diferenças de comportamentos, mas em relação à alimentação. Os nobres, como se alimentavam bastante, produziam sangue de melhor qualidade.
Assim, no séc. XVII começa a esboçar-se um pensamento centrado nas diferenças sociais e não centrado numa explicação teológica. Este pensamento está relacionado com as condições políticas e económicas dos respectivos países: nessa altura França e Espanha estavam muito ancoradas ainda na sociedade de ordens.
Sensivelmente na mesma altura, mas em Inglaterra, que tinha, então um grau de evolução superior ao de França ou Espanha, Gregory King, autor de “Aritmética Política”, resolve dar um primeiro desenho da forma como era distribuído o rendimento nacional inglês. Assim, através de uma base de cálculo cuja unidade de observação são as famílias, fazia a média do rendimento de cada agregado familiar para obter o rendimento global nacional. Concluía que a forma como o rendimento é distribuído tem efeitos políticos. Percebem-se assim que havia famílias que tinham mais rendimentos do que outras, originando uma divisão em classes.
Em meados do séc. XVII e inicio do séc. XVIII, em França, um economista Richard Chantillon tentou elaborar um primeiro circuito económico, ou seja, um primeiro olhar sobre a distribuição dos bens económicos. Primeira ideia central: apesar de em França a base económica continuar a ser a agricultura, já se estava a desenvolver o renascimento das cidades, fruto do desenvolvimento do comércio. Isto surge com a exploração da economia mercantil. Começas assim a florescer outros mercados, para alem dos mercados agrícolas.
O autor percebeu que havia uma circulação de bens económicos entre o campo e a cidade (a economia combinava e articulava o mercado urbano e agrícola). Percebe ainda que há três grupos, com três tipos de rendimentos associados a três tipos de actividades:
Aqueles que detinham a propriedade da terra.
Os trabalhadores agrícolas.
Os comerciantes e artesãos que viviam nas cidades.
Perante estes grupos, o autor identificou as seguintes dinâmicas:
Os trabalhadores agrícolas eram o grupo produtivo dos outros dois. A força dos proprietários da terra, uma vez que tinham influencia politica permitindo o acesso ao poder monárquico, fazia com que os dois outros grupos ficassem dependentes dele.
Os rendimentos estavam assim distribuídos: dois terços estavam ligados aos trabalhadores agrícolas, um terço estava distribuído pelos proprietários da terra. Porém os proprietários da terra gastavam todo o seu terço na cidade, enquanto que os trabalhadores da terra gastavam um quarto de dois terços (portanto 1/6) na cidade, sendo o restante reinvestido nos campos. Assim metade dos rendimentos ião parar às mãos dos comerciantes.
Mais tarde, em plena revolução industrial, um outro economista – David Ricardo, desenvolve uma teoria económica em torno do valor do trabalho. Surge uma primeira análise anatómica do sistema capitalista, porque identifica o nó central que está na base da exploração capitalista.
O autor afirma que o valor da mercadoria é medido pelo valor do trabalho humano acrescentado a essa mercadoria. Esta análise está no centro dos custos de produção da economia capitalista. David Ricardo distribuiu o rendimento económico em Inglaterra, por três grupos:
Os proprietários das terras (viviam das rendas).
Os capitalistas (viviam dos rendimentos da actividade empresarial).
Os assalariados (viviam do seu trabalho).
Ele identifica dois tipos de conflito entre os proprietários da terra e os capitalistas, uma vez que a subida das rendas aumentava o custo de produção empresarial que por sua vez se repercutia nas condições de vida dos assalariados. Havia ainda outra dicotomia entre os capitalistas e os assalariados, porque havia uma relação inversa entre os lucros e os salários (quando os lucros aumentavam os salários baixavam e vice versa).
No mesmo período, surge em França Quesnay e a corrente “fisiocrata” , associada à importância da terra. Quesnay divide a sociedade francesa em três grupos:
Proprietários das terras
Classes produtivas
Classes improdutivas
As duas últimas classes estavam na dependência da primeira.
Lição a tirar destes economistas:
Há aqui um esforço de pensamento económico, para explicar as desigualdades sociais. Estas desigualdades só podem ser explicadas a partir da condição de classe, no quadro das relações dessas classes no sistema económico.
Há, ainda, um contributo do historiador da revolução francesa, Therry et Guizet que desmontou o mito do terceiro estado. Ele afirma que este grupo era fraccionado, havendo ambiguidade de posições do povo face ao conflito político, defensor dos interesses burgueses e partidos aristocratas.
O sistema das relações económicas é determinante, nas relações entre as classes, mas é determinado pela explicação politica dessas relações. O sistema das relações económicas vai espelhar a estrutura politica. Vai levar a uma articulação entre a infraestrutura económica e a superestrutura política.
A estrutura de classes é um caso particular. É um conceito de estrutura social mais amplo e desenha um conjunto de relações entre as classes, em função do lugar que as classes ocupam no sistema de relações económicas. Pretende-se mostrar que as relações entre os grupos sociais são a expressão do sentido de lugar que estes grupos ocupam na estrutura das relações económicas.
Anteriormente, já havia a ideia de que existiam actividades, mais pesadas umas dos que as outras, em que era necessário pessoas adequadas para cada função (por exemplo: os escravos). Havia também uma ideia quanto à distribuição dos bens com base teológica (critérios divinos).
A partir do séc. XVII começam a surgir as primeiras reflexões sobre esta dicotomia entre fortes e fracos.
La Bruyére produziu um livro (“Les Caracteres”) onde discute a existência de diferentes formas psicológicas de estar socialmente. Entre os nobres e o povo, o objecto que fazia a diferença era a reacção perante a morte. Ele dizia que os nobres não tinham medo perante a morte, estando sempre prontos para o duelo (respeito pela sua dignidade), mesmo que isso pusesse em causa a sua vida. Ao contrário, o povo tinha medo perante a morte, porque não deixavam herança nem linhagem.
Estes dois pensamentos distintos eram, na opinião de La Bruyére, influenciados pelo lugar que estes ocupavam na sociedade de ordens (uns em cima e outros em baixo).
Jerónimo de Molina escreveu o livro “Vivir contra la fortuna”. Tinha características semelhantes ao anterior, ou seja, analisava as diferenças de comportamentos, mas em relação à alimentação. Os nobres, como se alimentavam bastante, produziam sangue de melhor qualidade.
Assim, no séc. XVII começa a esboçar-se um pensamento centrado nas diferenças sociais e não centrado numa explicação teológica. Este pensamento está relacionado com as condições políticas e económicas dos respectivos países: nessa altura França e Espanha estavam muito ancoradas ainda na sociedade de ordens.
Sensivelmente na mesma altura, mas em Inglaterra, que tinha, então um grau de evolução superior ao de França ou Espanha, Gregory King, autor de “Aritmética Política”, resolve dar um primeiro desenho da forma como era distribuído o rendimento nacional inglês. Assim, através de uma base de cálculo cuja unidade de observação são as famílias, fazia a média do rendimento de cada agregado familiar para obter o rendimento global nacional. Concluía que a forma como o rendimento é distribuído tem efeitos políticos. Percebem-se assim que havia famílias que tinham mais rendimentos do que outras, originando uma divisão em classes.
Em meados do séc. XVII e inicio do séc. XVIII, em França, um economista Richard Chantillon tentou elaborar um primeiro circuito económico, ou seja, um primeiro olhar sobre a distribuição dos bens económicos. Primeira ideia central: apesar de em França a base económica continuar a ser a agricultura, já se estava a desenvolver o renascimento das cidades, fruto do desenvolvimento do comércio. Isto surge com a exploração da economia mercantil. Começas assim a florescer outros mercados, para alem dos mercados agrícolas.
O autor percebeu que havia uma circulação de bens económicos entre o campo e a cidade (a economia combinava e articulava o mercado urbano e agrícola). Percebe ainda que há três grupos, com três tipos de rendimentos associados a três tipos de actividades:
Aqueles que detinham a propriedade da terra.
Os trabalhadores agrícolas.
Os comerciantes e artesãos que viviam nas cidades.
Perante estes grupos, o autor identificou as seguintes dinâmicas:
Os trabalhadores agrícolas eram o grupo produtivo dos outros dois. A força dos proprietários da terra, uma vez que tinham influencia politica permitindo o acesso ao poder monárquico, fazia com que os dois outros grupos ficassem dependentes dele.
Os rendimentos estavam assim distribuídos: dois terços estavam ligados aos trabalhadores agrícolas, um terço estava distribuído pelos proprietários da terra. Porém os proprietários da terra gastavam todo o seu terço na cidade, enquanto que os trabalhadores da terra gastavam um quarto de dois terços (portanto 1/6) na cidade, sendo o restante reinvestido nos campos. Assim metade dos rendimentos ião parar às mãos dos comerciantes.
Mais tarde, em plena revolução industrial, um outro economista – David Ricardo, desenvolve uma teoria económica em torno do valor do trabalho. Surge uma primeira análise anatómica do sistema capitalista, porque identifica o nó central que está na base da exploração capitalista.
O autor afirma que o valor da mercadoria é medido pelo valor do trabalho humano acrescentado a essa mercadoria. Esta análise está no centro dos custos de produção da economia capitalista. David Ricardo distribuiu o rendimento económico em Inglaterra, por três grupos:
Os proprietários das terras (viviam das rendas).
Os capitalistas (viviam dos rendimentos da actividade empresarial).
Os assalariados (viviam do seu trabalho).
Ele identifica dois tipos de conflito entre os proprietários da terra e os capitalistas, uma vez que a subida das rendas aumentava o custo de produção empresarial que por sua vez se repercutia nas condições de vida dos assalariados. Havia ainda outra dicotomia entre os capitalistas e os assalariados, porque havia uma relação inversa entre os lucros e os salários (quando os lucros aumentavam os salários baixavam e vice versa).
No mesmo período, surge em França Quesnay e a corrente “fisiocrata” , associada à importância da terra. Quesnay divide a sociedade francesa em três grupos:
Proprietários das terras
Classes produtivas
Classes improdutivas
As duas últimas classes estavam na dependência da primeira.
Lição a tirar destes economistas:
Há aqui um esforço de pensamento económico, para explicar as desigualdades sociais. Estas desigualdades só podem ser explicadas a partir da condição de classe, no quadro das relações dessas classes no sistema económico.
Há, ainda, um contributo do historiador da revolução francesa, Therry et Guizet que desmontou o mito do terceiro estado. Ele afirma que este grupo era fraccionado, havendo ambiguidade de posições do povo face ao conflito político, defensor dos interesses burgueses e partidos aristocratas.
O sistema das relações económicas é determinante, nas relações entre as classes, mas é determinado pela explicação politica dessas relações. O sistema das relações económicas vai espelhar a estrutura politica. Vai levar a uma articulação entre a infraestrutura económica e a superestrutura política.
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